Saindo de uma das muitas visitas que fiz a esta edição da Feira do Livro e encontro o Mauro Messina, da Ladeira Livros, diante de sua loja. Nos saudamos, como fazemos há uns 30 anos, desde que ele começou a lidar com os livros profissionalmente, lá num corredor do Campus do Vale. Junto com o característico sorriso, diz ele que a coisa não está fácil. Trocamos umas impressões.
Também senti que a Feira perdeu o viço. As vendas andaram baixas, disse ele. Tem a crise do país, e agora todos temos ao alcance de umas teclas, a qualquer hora do dia ou da noite, qualquer dia da semana, a chance de comprar livros mediante escolha, em sites. Nós, os que continuamos a apreciar livros, a comprá-los, a lê-los, a aprender com eles, não precisamos esperar pela Feira para comprar, até mesmo para comprar barato. Parte do sentido inicial de feira se perdeu na nossa Feira. Não há mais desconto forte, que foi regra até uns 10 anos atrás e era um dos grandes motivos da célebre e aguardada muvuca.
Por outro lado, a nossa Feira conheceu, nos anos 1990, um crescimento grande em atrações em torno dos livros – palestras, conversas, debates, visitas ilustres, essas coisas em que os festivais do livro, como a FLIP, se especializaram, e que a nossa Feira porto-alegrense se obrigou a imitar. Enquanto houve patrocínio abundante, esses paralelos garantiram uma parte do interesse geral. Agora, nem há mais aquilo dos descontos, nem isso dos eventos tem a mesma força.
Para completar, a prefeitura patrocinou uma lamentável ameaça (cobrança de aluguel pelo uso da praça), pouco tempo antes de as barracas abrirem as tampas. Felizmente o pior não aconteceu. Mas o clima pesou e ficou pesado, ecoando o baixíssimo astral do ano que finda, um martírio lento e mudo para quem gosta de vida inteligente, de divergência criativa, de crítica, de movimento.
Hora de repensar nosso grande evento literário, para renová-lo e projetá-lo para os novos tempos. No mercado em geral as megalivrarias estão em crise, mas os livreiros de rua parecem retomar algum fôlego. Há superconcentração editorial, enquanto há uma porção de editoras pequenas e recentes com trabalho firme e consistente, ao lado de outras maiores e mais antigas. E há, sempre, a cidade, esta cidade real, de ruas e prédios e árvores e praças e mais que tudo gente, que queremos permanentemente inteligente, capaz de atravessar tempos de baixo-astral e chegar ao outro lado com fôlego para continuar.