Escreve aqui quem não viu o jogo depois do final da comemoração de Adriano Gabiru, que entrara na partida no lugar de Fernandão. Não tive coragem. Abandonei. Estava no Parcão com uma multidão que chegara ali para perder de pouco do supertime de Barcelona que tinha o melhor jogador da década, hoje respeitando a quarentena em Assunção, Paraguai, onde ninguém entra, ninguém sai.
Nós, colorados, havíamos visto, uma goleada mágica do Barcelona contra o América do México na quinta-feira. Isso desencadeou a pior sexta-feira da minha vida. Sábado, então, foi mais lixo ainda, porque o sentimento era da noite anterior, a noite suada, nervosa, tenebrosa antes do pescoço ser cortado em menos de um segundo por uma afiada guilhotina.
A maior vergonha da história futebolística seria realizada num domingo de manhã. Pior ainda: no Japão, local onde o sol inicia sua jornada na terra plana. O mundo todo ficaria vendo por 24 horas uma outra goleada do time de, atenção porque citarei apenas alguns que estavam naquela noite de Yokohama: Deco, Iniesta, Xavi, Puyol e os dentes que sorriam e destroçavam oponentes.
Ronaldinho jogava sorrindo. Se divertia. Messi e Cristiano ganharam mais porque o gaúcho não quis mais vencer. Quis transar, beber, dançar e abandonar a bola. Entendo e não julgo. E ele, gremista que ainda era, teria uma chance de redenção porque havia saído do coirmão. Pois estávamos no Parcão, assustados e esperando a morte, que, todo o mundo sabia, viria. Seria lenta e gradual? Seria rápida? "Meu Deus? Quem sabe só um a zerinho?! Sem humilhações e fiascos...".
O depois você sabe: o passe de Índio que alguns maldosos chamam de balão, o primeiro toque na jogada, de cabeça, de Gabiru, sem cair no chão, lembrando a semifinal do Brasileirão contra o Galo na década de 70, Luiz Adriano, também usando a cabeça, dá o toque para Iarley (nome do meu próximo filho, de tanto que amo e venero).
Ali, o drible no cabeludo multicampeão espanhol. Puyol foi parar no Pacífico. Assim, o passe perfeito para o outro índio da jogada, Adriano Gabiru, que com a direita, peito de pé, vence Valdez e explode o mundo que repetia Davi e Golias. Que provava que a lei de Bosman pode ser destruída (bem "às vezes", eu sei).
Depois dos abraços em Gabiru não vi mais nada. Só na TV depois. Uma só vez. Porque tenho medo que algum dia, vá lá, eu desfocado, esteja assistindo o final do jogo e aquela falta do Ronaldinho entre na gaveta. Não sou eu que destruirei a, sobrando, maior vitória da história, mais do que centenária, do futebol gaúcho. Gabiru: esse feito, mais do que relevante, é, e muito, seu.