Federico? Neymar.
Cá está, meu filho, o homem mais falado desse país. E de outros países também. Neymar é craque, bate de direita, de canhota, dispara, dribla, breca, vai de novo, apanha, provoca, se faz, bate falta, os companheiros adoram, os adversários respeitam e/ou odeiam e, mesmo assim, Neymar não é uma unanimidade no Brasil.
Por quê? Primeiro porque ninguém é, Federico. Nem pense em ser. É perda de tempo. A graça é que seus amiguinhos serão diferentes de ti, na mesma sala de aula uns vão gostar mais, outros menos, e você vai sentir o mesmo. É da vida. Neymar é isso. Mas, só entre nós, tem um pouco de culpa dele nisso.
Neymar é mimado? Eu diria super protegido. Neymar é trabalhador? Todos os treinadores onde ele ganhou taças dizem que poucos são mais profissionais e perfeccionistas. É vaidoso? O tanto quanto habilidoso. Mas então por que, Federico, ele já não é nome de escolas e ruas no Brasil?
Porque no nosso país a gente ama e odeia ao mesmo tempo. Vivemos com o gosto doce e amargo de termos a boca calada para depois se deixar levar ou, se o alvo das nossa críticas falha, bradar alto o famoso e ególatra "eu falei". A gente nunca perde com um craque. Se ele mete uma bucha, sorrimos e elogiamos. Se se preocupa mais com o cabelo e não joga nada? Somos os mestres que sabemos de tudo.
Neymar parece ainda não entender isso. Nem seus parças. O cartão amarelo que levou do árbitro holandês no jogo contra Costa Rica mudou Neymar na Copa. Ele está pendurado, Federico. Se levar outro, está fora do próximo encontro (se chegar na semi, será tudo). Uma lástima. Assim, a cor dos pelos da cabeça voltou a ser a de nascença e o silêncio com árbitros e adversários focou Neymar no que ele está no mundo para fazer.
Nessa batalha "povo brasileiro e Neymar" parece que só falta os dois sentarem numa sala. Sozinhos. Deixarem de serem crianças rabugentas e se acertarem logo. Os dois são adultos, crescidos. E cada um tem que ceder. Neymar diminuir as piruetas estéticas. E o povo entender que isso faz parte dele. É assim que ele enfrenta patadas, coices, cotovelos e cusparadas.
E assim que quero você na vida, filhote. Este mundo está cheio de pessoas querendo que outras pensem como elas, sintam como elas, sigam-as. Está repleto de egoístas que acham que só existe a verdade deles. A vida, Federico, é mais complexa. Bem mais. Não embarque nesse barquinho frágil da unanimidade. Do pensamento único. Mas ceda. Escute. E fique perto dos que não gritam. Esses talvez tenham algo que valha a pena ouvir.
Neymar deve ter ouvido um desses seres nos últimos dias. Deve ter escutado, pensado, refletido e ter voltado ao castanho, metáfora do novo Neymar do Mundial. E você, Federico, aprenderá na marra que o que você pensa, meu filho, pode, e vai muito nessa vida, estar errado. Então, respeitar as diferenças, que dói como um carrinho de zagueiro por cima da bola, é sabedoria pura. Porque sem essa categoria você vira um chato e metido. Tudo que o povo brasileiro não quer.
Deus me livre um filho dono da verdade e que não ouve conselhos. Perto disso, cortes de cabelo e piruetas desnecessárias se tornam as bobagens que realmente são.