Há muitos elementos neste Inter x Juventude desta quarta-feira (14). Tem o reencontro de Roger com seu ex-clube, a rivalidade regional, a crise colorada e seus 12 jogos sem vitória, a excelente fase dos caxienses.
Pode-se observar esse jogo por vários prismas. Há um, no entanto, que desenha um retrato fiel do futebol brasileiro e serve de espelho da nossa sociedade. A partida colocará frente a frente os dois únicos técnicos negros da Série A. O futebol, assim como a sociedade, reflete o racismo estrutural com o qual temos de lidar todos os dias.
Para você ter ideia, se juntarmos as duas principais séries do futebol brasileiro, contamos apenas três técnicos negros. Sim, três em um universo de 40. Esse terceiro é o veterano Hélio dos Anjos, que está em sua terceira passagem pelo Paysandu.
Essa escassez de técnicos negros mostra que há uma barreira a ser vencida no futebol brasileiro, de repetir na beira do campo a mesma representatividade negra que tem dentro dele. Esses números foram apontados pelo mestre em gestão de políticas públicas Donald Verônico Alves da Silva, na pesquisa para constituição de sua tese de doutorado. Donald defendeu a tese agora em julho, na Escola de Educação Física e Esportes (EEFE) da USP. Parte do curso ele fez na Universidade de Stirling, na Escócia.
Em análise feita entre outubro e novembro de 2023, Donald apontou que 57% dos atletas da Série A eram pretos ou pardos. Porém, não havia nenhum técnico negro. Em uma época de comissões técnicas multidisciplinares e muitos integrantes, apenas 17% deles eram pretos ou pardos.
Ou seja, a partida desta quarta-feira à noite, no Beira-Rio, tem fora do campo um simbolismo gigante. Roger e Jair Ventura são a prova do óbvio, mas que precisa ser dito em um país que ainda precisa corrigir o racismo estrutural: independe da cor da pele a capacidade de comandar um vestiário e liderar uma equipe de profissionais.
Assim como já haviam mostrado ali atrás nomes como Cristóvão Borges, Andrade e Marcão. Os dois primeiros foram limados do mercado, e o terceiro voltou a ser auxiliar no Fluminense.