Beatriz de Souza é a cara do Brasil. Seu ouro é um wazari numa sociedade que insiste em olhar só para cima e ainda está amarrada por preconceitos. Beatriz é mulher, é negra, é egressa da escola pública, é oriunda das classes mais populares, é tamanho GG. Beatriz, em resumo, é o Brasil em sua essência.
Há muito significado na nossa primeira medalha de ouro em Paris. Por isso, a conquista dela tocou fundo. Há, é verdade, a simpatia da nossa judoca, além da carga emocional da vitória, cujas tintas ficam ainda mais carregada pela perda recente da avó, a quem ela dedicou a conquista. Mas há, principalmente, o simbolismo representado na figura dela.
Beatriz mostra com sua conquista que um outro Brasil é possível. Basta dar a ele oportunidade. Temos milhares de outras como ela espalhadas por esse continente que é nosso país.
Tudo do que precisam é de um olhar mais atento, de uma mão para guiá-las e de uma chance. O esporte tem a capacidade de produzir essas histórias porque é uma ferramenta capaz de mudar vidas.
O judô mudou a da Beatriz. Ela só pisou no tatame aos sete anos, porque era ativa demais, e a dança e a natação pareciam monótonos. Foi amor à primeira vista com a luta, e assim surgiu um fenômeno do esporte, numa academia em Peruíbe, no litoral paulista.
A menina inquieta e desconfortável com suas formas encontrou no esporte o seu mundo. E o mundo, nesta sexta-feira (2) de Paris, virou todo dela.