Vinícius Júnior nunca se calou. Teve a coragem de enfrentar o racismo e, nesta segunda-feira (10), veio a prova de que ele colocou a Espanha a olhar para dentro de si e revisar sua história. A condenação de três jovens torcedores do Valencia a oito meses de prisão pelos insultos ao jogador, em maio de 2023, foi a primeira para esse crime. É tratada aqui na Espanha como um marco. A representante do Ministério Público tratou a decisão no tribunal como "um aviso aos navegantes de que atos racistas não sairão de graça e de que as vítimas saibam que estão protegidas".
O simples fato de a Espanha deixar de tratar com naturalidade atos de racismo representa um avanço. Muito ouvi aqui nestes nove meses em que vivo em Barcelona tentativas de justificar as agressões a Vini pela sua forma provocativa em campo. Esse é a grande vitória.
Mas, olhando os pormenores da decisão, vemos que o primeiro passo ainda foi cheio de pruridos. A condenação foi por delito contra a integridade moral, previsto no artigo 173.1 do Código Penal, mas com agravante de discriminação por motivos racistas. O agravante de ódio foi retirado, o que acabou comemorado pelo advogado de um dos jovens. A La Liga e o MP consideram que o agravante de ódio está inserido.
Enfim, a condenação saiu de um acordo entre as partes. Os três jovens fizeram pedido de desculpa a Vinícius Júnior, o que atenuou a pena: em vez de um ano de prisão e três anos de afastamentos dos estádios, eles cumpririam oito meses e ficariam afastados de qualquer jogo organizado pela La Liga e pela RFEF (Real Federação Espanhola de Futebol) por dois anos. Também pelo acordo, eles cumprirão a pena em liberdade.
Mesmo com as atenuantes, devemos dizer que esta segunda-feira aqui na Espanha foi o dia em que um brasileiro de 23 anos fez o país revisitar sua história e colocar sua sociedade em um outro caminho. A própria adesão da La Liga, que comemorou a decisão, é outra vitória do craque. Javier Tebas, presidente da entidade, é alinhado ao VOX, partido de extrema direita da Espanha e com posições que flexibilizam atos discriminatórios. No começo da batalha de Vini contra o racismo, Tebas questionou as reações do brasileiro. Porém, em seguida, alinhou-se com ele e entendeu a importância para todos de ter alguém com a importância de Vinícius Júnior.