Pouco antes de entrar no estúdio do Sala de Redação desta quarta-feira (5), o ex-volante Lucas Leiva recebeu no celular uma mensagem por WhatsApp. Quando abriu, era de Jürgen Klopp, que enviava ao seu ex-comandado uma foto em família. Os dois criaram uma sólida amizade nos anos que trabalharam juntos no Liverpool, mesmo que tenha sido Klopp o técnico que tenha tirado espaço de Lucas no clube inglês e aberto a porta para sua saída.
Depois disso, o ex-volante foi para a Lazio, construiu uma trajetória lá, mas guardou o respeito pelo técnico alemão e admiração pela capacidade de gestão de grupo dele. Depois disso, voltou para se aposentar no Grêmio, clube que o revelou para o futebol.
Klopp, enquanto isso, encerrou sua passagem pelo Liverpool nesta temporada, depois de oito anos e 489 jogos em Anfield. Foi apenas o 22º técnico diferente a comandar o clube em 132 anos de história. Alguns, como Kenny Dalglish, ficaram sete anos — no caso dele, em duas passagens. Rafa Benítez, que recebeu Lucas por lá em 2007, ficou seis.
A paixão na cidade de Liverpool pelo lado vermelho é algo fora do comum. A fila para comprar um "abono", ou tíquete da temporada, é de 10 anos. Eles nunca caminharão sozinhos mesmo, parafraseando a música que os torcedores cantam sempre nos jogos.
Claro que tendo o Lucas ali, no Sala, não poderia perder a chance de perguntar a ele como era o Liverpool pré-Klopp e como ele percebeu o legado deixado pelo alemão. Deixo que o Lucas fale:
— Ele (Klopp) transformou o clube. E eu digo transformou, não que o clube não tinha história, pelo contrário. O Liverpool sempre foi um gigante e estava num momento de transição, um momento de dificuldades. Ele conseguiu colocar o trem no trilho. Desde quando chegou, conseguiu fazer isso. Agora, vamos lá. As pessoas acreditaram, as pessoas tiveram paciência, né? Ele levou tempo. No terceiro ano dele, ele perdeu a final da Champions League, mas no quarto ano acabou ganhando. Teve muita paciência. Ele é um cara, como gestor, dos melhores que trabalhei. O Renato também é um que eu sempre gosto de comentar, porque é questão de gestão de grupo, do time, enfim. Eu acho que ele também tem muitas qualidades.
— O Klopp trouxe aquela identidade do clube de volta. O que é? O clube, a torcida, os jogadores, a cidade, todo mundo em volta do mesmo pensamento. Acho que isso foi muito mérito do Klopp. São uma série de fatores. Primeiro, ele fez uma reformulação do time, aos poucos. Depois de dois anos, acabei perdendo espaço e acabei saindo, justamente por essa reformulação que começou a fazer.
— Klopp também fez pequenos ajustes no dia a dia. Não digo que não tinha profissionalismo antes, mas vou dar um exemplo. Lá tem a cultura que na parada da seleção, da Fifa, você tem uma semana de folga. Em todos os times da Premier League, você tem folga. Ninguém fica lá, porque cinco, seis jogadores ficam, a maioria está nas seleções. E ele criou um... não método, mas uma obrigação, que você poderia sair de folga, obviamente, essa semana inteira, mas tinha de mandar uma foto toda vez que treinasse, seguindo o programa elaborado para fazer fora do clube. Obviamente, algumas pessoas tentaram burlar e mandaram fotos com a mesma camiseta, três dias seguidos, enfim. E essa é a responsabilidade que ele transferiu para os atletas.
— Acho que isso cria um grupo muito forte, um grupo no qual você confia no teu companheiro. Você sabe que o teu companheiro está de folga, mas está treinando. Por quê? Porque no outro fim de semana, o cara tem de entregar (esforço no campo). Você não vai precisar ficar cobrindo o cara toda hora por falta de treinamento ou por falta de preparação.