O novo Camp Nou só ficará completamente pronto no final de 2026. Poderá receber jogos antes do Natal de 2025. Porém, desde já, quase dois anos antes, o Barcelona já busca soluções de mobilidade para que a experiência de chegar e sair do estádio com mais 105 mil pessoas seja prazerosa e tranquila. Afinal, o torcedor estará ali para desfrutar. Tudo está sendo pensado para evitar que ele se estresse. Cliente satisfeito, sempre volta, e o Barcelona quer que seu fã volte muitas vezes e, mais do que isso, deixe muitos euros no caixa.
Foi pensando nisso que o clube saiu em busca de sugestões e bateu à porta justamente no curso de Gestão e Marketing Esportivo que estou fazendo aqui em Barcelona. José Luís Beltrán é o "digital product manager" do Barça e professor no Johann Cruyff Institute. Um dos projetos a serem apresentados no master foi justamente desenvolver ideias para que o novo Camp Nou ofereça aos torcedores um aplicativo com soluções de mobilidade e sustentabilidade, com menos carros na rua, e que engaje o torcedor. Além, é claro, de estimulá-lo a desfrutar da experiência do jogo consumindo no estádio.
O meu grupo pensou em uma jornada toda construída a partir do aplicativo e que se iniciava, cinco dias antes do jogo. O primeiro aviso era de que, na região dele, haveria um ponto com ônibus ofertados pelo clube nos quais poderia embarcar no dia do jogo. Bastava escolher o horário e reservar o lugar. O novo Camp Nou contemplará também uma reforma no Espai Barça, como é chamada a área no entorno do estádio. Ali, está previsto um estacionamento para ônibus. Seria nele que o nosso torcedor desceria.
A partir da sua chegada, ele poderia escolher quatro "fan zones" para esperar até a hora de entrar no estádio. Esse locais contariam com lanchonetes, estação da cerveja oficial do Barça, jogos eletrônicos, máquinas em que se poderia tirar fotos com os jogadores através da realidade aumentada e outras ativações dos patrocinadores. Mais ofertas de entretenimento significa mais estímulo para chegar cedo ao estádio. A jornada via aplicativo seguiria na hora de ingressar no estádio, orientando os caminhos até o seu assento e dicas de qual portão está mais vazio.
Ao final, para evitar que 105 mil pessoas saiam ao mesmo tempo, mais ofertas via aplicativo. Quem sabe mais uma cerveja na zona de alimentação ou aproveitar a promoção que acaba de sair nas lanchonetes? Sem pressa, porque o ônibus aquele está estacionado e, via aplicativo, você já marcou seu lugar. Todos os gastos, assim como a ida de ônibus, são pontos que o nosso torcedor acumulará no programa de milhagem em que, ali na frente, poderá trocar por descontos ou prêmios.
Um projeto como esse, é evidente, cabe bem no bolso de quem vai a jogos do Barcelona. Estamos falando de um público no qual 60% é de classe média e alta e os outros 40% são compostos por turistas. Assistir a uma partida do clube está no roteiro de quem visita a cidade assim como a Sagrada Família ou a Casa Battló. O futebol na Espanha é caro para a classe trabalhadora. Tanto é que preocupam os vazios em estádios de muitos clubes da La Liga.
O perfil dos frequentadores do Camp Nou, é verdade, é diferente do que temos na realidade econômica de boa parte de quem ocupa as arquibancadas da Arena e do Beira-Rio. Porém, a preocupação com a mobilidade de quem vai aos estádios precisa ser a mesma.
A preocupação do clube catalão se dá numa Barcelona que a cada dia menos usa carro. Pela qualidade do serviço prestado, pela segurança que oferece aos seus cidadãos e por um projeto que troca rua por calçada. Há duas semanas, o "ayuntamento", como é chamada a prefeitura, comemorou que, pela primeira vez, menos de 20% da população (19,9%) usa veículos para se deslocar no dia a dia, contra 42,1% de quem anda a pé, 34,2% de transporte público e 3,8% de bicicleta ou patinetes.
Imaginar esses índices em Porto Alegre, é um sonho. Nossa cultura é de andar de carro, na maioria das vezes, sozinho. Há questões de segurança e de um serviço de transporte público deficiente. Porém, pensar em soluções como aumentar o linha Futebol, direcionando-o para várias regiões e pensar em experiências que façam o jogo ser mais do que 90 minutos, isso é possível. Principalmente na região da Arena, chegar e sair de carro é um martírio. No Beira-Rio, quando se misturam jogo grande e trânsito para a Zona Sul, tudo trava. E nada desafia mais a paixão do torcedor do que ficar congestionado. Mesmo os mais apaixonados, uma hora, cansam.