O Parque Central que recebe o Inter nesta quarta-feira é um daqueles capítulos do futebol. Para os uruguaios, não só do futebol. Por aquelas coincidências do destino, o estádio foi erguido em 1900, no local em que está o nascedouro da República Oriental do Uruguai.
Foi ali na Quinta de la Paraguaya, em outubro de 1811, que a população decidiu em assembleia nomear Jose Gervasio Artigas como chefe dos "Orientales". Quatro anos depois, vencida a coroa espanhola, ele assumiria o poder em 1815.
Cinco anos depois, ele seria deposto e enviado para o Paraguai, e o Uruguai, anexado pelo Brasil. A independência definitiva viria só em 1825, fazendo brotar a semente plantada por Artigas no local que hoje é a casa do Nacional.
Quem visita o Parque Central, primeiro, se impressiona com o fato de ele brotar no meio do casario de La Blanqueada, um bairro residencial, a 10 minutos do centro. Depois, se magnetiza pela história que carrega.
Erguido em 1900, no mesmo pavilhão usado na assembleia que nomeou Artigas, é o estádio mais antigo da América e o 16º mais velho do mundo. Acolheu o primeiro jogo de Copa do Mundo, um EUA x Bélgica, em 1930. A seleção uruguaia tem uma relação estreita com o Parque Central.
A origem da camisa celeste tem endereço ali. O extinto River Plate, de celeste, venceu o argentino Alumni, um time poderoso na época. Em homenagem a esse feito, a seleção adotou a cor que virou ícone do futebol mundial. Na Copa de 1930, embora tenha também mandado jogos no recém inaugurado Centenário, o Uruguai fez do Parque Central a sua casa.
Não era para menos. Havia ganho ali as Copas Américas de 1923 e 1924. A festa para celebrar o ouro ganho em Paris 1924 também foi lá. O Uruguai, aliás, é chamado de Celeste Olímpica por esse ouro de 1924 e o de 1928, quando o futebol olímpico tinha peso de Copa do Mundo.
No decorrer século passado, o Parque Central passou por longos períodos de abandono. O Nacional mandava seus jogos no Centenário e fazia da sua casa uma propriedade apenas.
Em 1980, por exemplo, ano em que ganhou a Libertadores do Inter, voltou a usá-lo, devido a reformas no Centenário para o Mundialito de 1981. Para se ter ideia do quanto era secundário, o estádio só ganhou iluminação em 1988. Entre 1994 e 1996, o Nacional mandou jogos locais ali, provocando euforia da sua torcida.
A mudança definitiva para a velha casa só veio em 2005. Na Libertadores do ano seguinte, por exemplo, os jogos contra o Inter foram lá. Desde lá, o Nacional vem fazendo modernizações, conectando e ampliando arquibancadas.
A última reforma, em 2018, mudou a feição do estádio e o deixou com ar de Bombonera mais compacta. Hoje, comporta 34 mil pessoas. O campo, porém, segue colado nas tribunas, e a pressão nos adversários é altíssima. É nesse cenário, com história e temperatura alta, que o Inter buscará sua vaga nas oitavas.