São 90 minutos que valem seis anos para o Grêmio. Representam a manutenção da hegemonia e o recorte na história que faremos ali na frente. O Gauchão sempre serviu para desenhar o mapa do futebol na ponta sul do mundo. Confirmando o título sobre o Caxias, o Grêmio só estará cristalizando o predomínio que exerce desde a segunda metade da última década.
Assim como foi lá em 1967 e se repetiu em 1990, quando conquistou também o hexa estadual. Não é à toa, está longe de ser desleixo do principal adversário ou acidente. Quando um time encarreira seis títulos há uma superioridade bem alicerçada. Mesmo quando se trata de um campeonato que, nos dias atuais, virou secundário nos planos da Dupla — apesar de ser, geralmente, o título ao alcance dela.
Um recuo no tempo ajuda a confirmar que a hegemonia tem raízes no contexto. Em 1967, o Grêmio vinha embalado por uma série histórica, batizada como "Os 12 em 13". Foi quando ganhou cinco Gauchões seguidos, teve interrompida a série em 1961 e acelerou para o hepta até 1967. Ou seja, 12 Gauchões em 13 em um tempo no qual Libertadores era como pisar na lua e campeonato nacional uma miragem.
O Estadual era a Copa do Mundo para Grêmio e Inter. Por isso, o "12 em 13" é uma das grandes conquistas azuis, como o Mundial, as três Libertadores, os dois Brasileiros e o Gauchão de 1977, que encerrou uma era dourada do rival.
A série iniciada em 1956 colocou ponto final em longo predomínio do Inter. Entre 1940 e 1955, os vermelhos conquistaram 13 Gauchões em 16. Iniciou-se com o Rolo Compressor, de Tesourinha e Bodinho, e seguiu-se com o Rolo 2 de Larry. Eram dias duros para o Grêmio. O Olímpico foi inaugurado com goleada do rival.
Hegemonia
Só que no futebol, como na vida, antes do caminho de flores vem o de pedra. O estádio novo foi o propulsor da era vitoriosa que duraria 14 anos. Um time cantado em verso, da defesa dos 4 As. Havia uma brincadeira que mudava a grafia do nome do lateral Ortunho para fazer dele o quinto A: Alberto, Altemir, Áureo, Aírton e "Artunho".
No meio-campo, passaram pelo time Gessy, um dos mais talentosos jogadores destes 119 anos de Grêmio e cuja a história ainda quero contar, Milton Kuelle, o Formiguinha, João Severiano, Cléo, entre outros. Na frente, Babá e Vieira abasteciam Alcindo, um centroavante cuja força encantou Pelé a ponto de pedi-lo no seu Santos.
Ao longo desses 14 anos, o Grêmio mudou nomes, mas manteve uma base e a aura vencedora. O fim deste time abriu espaço para o começo de uma era vermelha nos anos 1970. Porém, na década seguinte, o Grêmio voltou dominar o pampa. Começou rompendo as fronteiras e engatou Brasileirão, Libertadores e Mundial. A partir de 1985, se adonou do Gauchão e construiu seu segundo hexa.
Transição
O começo da série ainda tinha Renato na ponta-direita. Era ele a estrela em 1985 e 1986. Porém, esse dois títulos foram a transição do time campeão da América e do mundo para uma nova geração, liderada por Valdo, um craque que jogava o futebol moderno de hoje nos anos 1980. Além dele, havia Raul e Luis Eduardo, também feitos em casa, e surgia Caio Júnior. Esses guris tocaram o barco até 1988.
No ano seguinte, Cláudio Duarte forjou na "Batalha de Vacaria" o time que entraria para a história como primeiro campeão da Copa do Brasil. O jogo no Altos da Glória tinha dois caminhos: vencer e se classificar ao hexagonal final ou perder e lutar contra o rebaixamento estadual.
Com reforços de última hora como Edinho, Hélcio, Jandir e Lino, o Grêmio sobreviveu e fechou o ano ganhando tudo. A série se encerra em 1990. Naquele ano, o time montado por Evaristo de Macedo cairia na semifinal do Brasileirão e seria apontado como o de melhor futebol no país.
Os anos 1990 estão na história do Grêmio como um capítulo dourado. Ganhou Libertadores, Brasileirão e duas Copas do Brasil. No cenário local, porém, alternou com o rival. O calendário mais cheio fazia o Gauchão descer na hierarquia. Não podemos nos esquecer de que, em 1995, o Grêmio jogou três partidas no mesmo dia para completar sua tabela.
Como se vê por esse resgate histórico, o hexa que pode vir neste sábado é a confirmação de uma era azul iniciada em 2016, com o fim da série de 15 anos sem títulos de maior quilate. A hegemonia conquistada em 2018, pelo time de Grohe, Kannemann, Geromel, Maicon e Luan iniciou um recorte que será ressaltado com o distanciamento histórico. Esta é uma era azul que estará só mais cristalizada caso vença o Caxias na Arena.
Afinal, um hexacampeonato não se repete toda hora. No caso do Grêmio, ser hexa é tri.