A Libra se reuniu na sede da Federação Paulista de Futebol (FPF), nesta terça (28), e deu passo significativo para se aproximar da Forte Futebol (FF) e da criação de uma liga unificada. Na reunião, os 18 clubes votaram mudanças no modelo de distribuição de renda entre os clubes e chegaram a números que os aproximam da FF.
Ainda há caminho a ser percorrido, é bom que se diga. Mas a distância encurtou muito e já permite vislumbrar um Brasileirão organizado pelos clubes e a negociação conjunta dos direitos com participação dos 40 clubes das Séries A e B.
As mudanças votadas foram as seguintes:
- Divisão do bolo de receitas sai do 40% igualitário, 30% performance e 30% engajamento e passa para, respectivamente, 45%, 30% e 25%;
- A diferença entre o clube que mais recebe e o que menos recebe, que era de 3,9 vezes, caiu para 3,4 vezes;
- Destinação de 15% do bolo para os 20 clubes da Série B.
Em um olhar mais amplo diante desses movimentos, podemos dizer que os dois blocos, mais do que se aproximarem, se fundiram. Afinal, os números são os mesmos.
A divisão de receitas votada pela Libra é a mesma adotada e defendida à morte pela FF. O teto para distância entre o que mais recebe e o que menos recebe, outra bandeira inegociável da FF, ficou até menor (0,1) com a Libra.
Porém, há pormenores. É aqui que ainda restam pontos divergentes. A Libra defende uma transição na forma de dividir as receitas. Pede que o 40%-30%-30% passe para 45%-30%-25% em um prazo de cinco anos ou se as receitas atingirem R$ 4 bilhões.
O que vier antes. No caso dos 3,4 como número mágico, a FF quer que esse seja o número em todos os cenários. Inclusive naquele mais estressado, com o Flamengo, por exemplo, campeão e líder em engajamento e um clube de menor apelo, como Goiás e Cuiabá, por exemplo, sendo lanterna e tendo menor engajamento.
Mais um ponto não tratado pela Libra é quanto à garantia de um valor mínimo de PPV para os clubes. Hoje, em cenário de queda nas vendas de pacotes, alguns clubes de maior apelo, como Flamengo e Corinthians, têm valor garantido. A FF deseja que essa defesa caia.
Outro ponto a ser esclarecido é a medição do engajamento. A Libra fala em "audiência ponderada". A FF adota a "audiência média, ponderada pelo investimento de cada emissora de TV/serviço de streaming para definir um ranking de clubes". A palavra "média", ali, faz uma grande diferença.
Tanto a divisão das receitas por performance quanto as por engajamento obedecem, no caso da FF, uma escala pré-definida. Por exemplo: o campeão leva 8,9% da receita dessa fatia, o vice, 8,5%, o terceiro, 8,1% e assim por diante, até chegar ao último colocado, que fica com 1,1%. No caso de engajamento, o campeão leva 9,70%, o vice 9,21%, o terceiro, 8,71% e assim por diante, até chegar ao último, com 0,30%.
Um outro ponto divergente, e esse, sim, deverá demandar mais debate, é que a Libra destina 15% para os clubes da Série B, enquanto a FF defende 20%, sendo 18% para a Série B e 2% para a Série C, que não é mencionada pela Libra. Aqui, está uma discordância pela natureza dos dois movimentos. Dos 26 clubes do Forte Futebol, 13 são da Série B e quatro da Série C, contra nove da Série A. Na Libra, estão 11 da Série A e sete da Série B.
Na reunião desta terça, na FPF, uma comissão foi nomeada para sentar à mesa e discutir com a Forte Futebol. Estão nela o presidente do Grêmio, Alberto Guerra, e os representantes de Flamengo, Corinthians, Bahia, Botafogo e Cruzeiro. Flamengo e Corinthians, dentro da Libra, estariam mais alinhados, por razões óbvias. Afinal, são donos das duas maiores torcidas e das maiores verbas de direitos de transmissão pelo contrato vigente.
Em resumo, tivemos nesta terça-feira, um passo gigante para a criação da Liga Unificada. Entramos nas cenas dos últimos capítulos.