Marrocos escreve a cada jogo a mais linda história desta Copa. Neste sábado (10) com cara de inverno aqui no Catar, venceu Portugal por 1 a 0 e se tornou a primeira seleção africana a chegar à semifinal. Mais, se tornou a primeira seleção da comunidade árabe a chegar entre os quatro melhores de uma Copa do Mundo. Nesta edição, desde as quartas, o Marrocos já tinha deixado de ser uma seleção de um país para representar a de um povo. Neste sábado, Doha passou o dia avermelhada. Por todos os lados, se via gente com bandeiras do país desfraldadas, camisetas vermelhas da seleção ou simplesmente apenas com a estrela verde de Salomão, presente na bandeira e que representa o elo entre Marrocos e Deus.
A noite será longa e emendará com a quarta-feira (14) aqui no Catar. O orgulho dos árabes com a seleção que passaram a chamar de sua não cabe em um dia só. Não poderia ser diferente. A seleção de Walid Regragui deixa em campo até a última gota de suor. A estratégia de jogo segue a mesma que deixou pelo caminho a Bélgica, na fase de grupos, e a Espanha nas quartas. Linhas baixas, marcação severa em todos os espaços da intermediária para trás e saídas em velocidade. Não é de graça que Marrocos tenha levado apenas um gol em cinco jogos de Copa. E foi contra, ainda, diante do Canadá.
Regragui foi para o jogo sem seu zagueiro Aguerd, lesionado, e perdeu o outro, Saiss, o capitão, no decorrer da partida. Quem entrou manteve a fortaleza de um time cujo ritmo é ditado pelo volante Amrabat, da Fiorentina, e a liderança técnica está nos pés de Hakimi, o lateral-direito nascido em Madri, criado no Real e que disse não à seleção espanhola por sentir que aquele não era seu lugar. Há muito dessa gana de voltar às origens neste Marrocos, a mais estrangeira das seleções, com 17 jogadores nascidos fora do país, mas que decidiram defender o país dos seus pais.
É esse amor que move a seleção marroquina e a faz derrubar europeus. Portugal sentiu na pele o que havia passado a Espanha. Foi amordaçado e parou numa barreira vermelha diante da área. O que tornou melancólica a despedida de Cristiano Ronaldo da seleção e das Copas. O astro entrou no segundo tempo, teve uma chance para empatar, mas parou no bom goleiro Bono, do Sevilla. Ao final, saiu chorando. Foi triste ver suas lágrimas. Porém, a causa delas fez um mundo árabe inteiro comemorar. Eles estão na semifinal. Pela primeira vez em quase um século.