Podemos dizer que o Melgar deslocou para o sul do Peru o eixo do futebol do país. Ali, onde acaba o deserto e começa a montanha, está o Dominó, como é chamado o adversário do Inter. Um time que, desde 2015, figura em competições continentais. Seja caindo na fase de grupos da Libertadores ou encarando os mata-matas da Sul-Americana.
Neste ano, porém, os 1,5 milhão de habitantes de Arequipa sonham com a realização de um sonho, ser o segundo clube peruano a conquistar uma Copa continental (o primeiro foi o Cienciano, que em 2003 venceu a Sul-Americana sobre o River, em jogo disputado justamente em Arequipa, já que o estádio em Cuzco não oferecia condições).
Todos já entenderam que, nos dias atuais, o Melgar já bate de frente com Sporting Cristal, Alianza Lima e Universitário, o trio de gigantes da Capital. Porém, vencer a Sul-Americana significaria carimbar um passo à frente e colocar Arequipa, a segunda maior cidade do Peru, à frente de Lima.
Arequipa, aliás, é um dos principais destinos turísticos do Peru. Só perde para Lima e Cuzco, claro. Porém, a cidade encanta com sua arquitetura europeia e forte influência dos espanhóis. Eles a ergueram por que viram ali, na ponta sul do Peru, o ponto de partida para avançar sobre a parte meridional da América do Sul.
Para erguer casas, prédios e a catedral, usaram pedras brancas, retiradas dos vulcões que, ainda hoje, seguem ativos. O sillar, a pedra branca, ainda hoje é usada em construções na periferia de Arequipa. É graças a ela que, apesar dos terremotos, a cidade segue firme. A cor alva dá à cidade um aspecto especial, que encanta turistas, em sua maior parte, europeus. O centro da cidade foi tombado como patrimônio mundial da humanidade pela Unesco.
O dono milionário...
Jader Rizqallah Garib, um peruano descendente de palestinos, é quem ajudou o Melgar a sair do anonimato e da luta constante contra o rebaixamento. O clube tem 107 anos, mas só a partir de 1971 deixou o amadorismo. Sempre figurou na parte de baixo da tabela até que, em 2013, Garib desembarcou lá.
Em dois anos, fez o clube conquistar seu segundo título nacional e virar figurinha carimbada na Conmebol. O título de 2015 foi a cereja do bolo da festa do centenário. Garib não só buscou jogadores nos grandes de Lima, como passou a investir na base. Hoje, alguns dos titulares foram feitos em casa. Outros, buscados na base de times como Sporting e Alianza.
... e investigado
O sucesso de Garib o colocou nas manchetes esportivas. Seus negócios, nas páginas de polícia. Ele é investigado por lavagem de dinheiro. Uma procuradora peruana abriu investigação sobre a origem do dinheiro colocado no Melgar, que viria de paraísos fiscais através de suas empresas offshore. Em 2017, o processo foi arquivado.
Porém, o Ministério Público recorreu e, no final do ano passado, a investigação acabou reaberta. Tudo isso aconteceu enquanto o Melgar vive, em campo, seu melhor momento.
O clube acabou de conquistar o Apertura peruano e avançou às quartas da Sul-Americana ao despachar o Deportivo Cali. Seu técnico, Néstor Lorenzo, saiu tão por cima que acabou contratado pela seleção colombiana, onde havia sido auxiliar de Jose Perkerman.