Fala, Sê. Tudo em ordem? Que sexta-feira, hein? Tu deves estar rindo da gente, se divertindo com o nosso desconserto aqui. Logo na sexta, Sê? Tu sabes que jornal tem fechamento complicado, que a gente fica correndo contra o tempo, como se o sábado, nosso único dia de folga, viesse na mão contrária a 180 km/h. Escolheu a dedo, né, sacana?
Mas, tudo bem, como a gente dizia lá na nossa Editoria de Esportes da ZH, sacanagem tem prioridade. Ela, uma rubiácea feita pela Lara no bar da Redação, no começo da tarde, e o chope cremoso do Lilliput, no começo da noite.
Por falar da Editoria de Esportes, Sê, que tempos aqueles. Que timaço tu montaste como editor. Sem querer ser gabola, a gente era padrão Cruzeiro do Dirceu Lopes, Palmeiras do Ademir da Guia. Tínhamos muito do Santos de Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.
Sem querer ser convencido, dá para dizer isso, sim. Tu ali, só distribuindo o jogo, com aquela turma que jogava por música. E por chope. E pela alegria de, simplesmente, estar junta, entre amigos. A nossa editoria era a tua cara: leve, divertida, qualificada, produtiva e obsessiva na busca pelo melhor texto.
Éramos tão extrovertidos que os repórteres das outras editorias queriam vir trabalhar conosco. Ou, no mínimo, serem convidados para nossa festa de fim de ano. Só a turma do Segundo Caderno, nossos vizinhos, que se incomodava um pouco. Pelo barulho, nos apelidaram de Borracharia. A gente adorou o apelido. Virou até nome do nosso time, aquele de camisa amarela e preta.
Fizemos cada conteúdo naquela Editoria de Esportes que o pessoal não lia, se deleitava. Como passaram a fazer com tuas crônicas a partir daquela Contracopa, a contracapa do caderno da Copa de 1998, teu início como colunista.
Foi uma cobertura na qual fizemos história. Lembra da festa da comemoração da vitória do Brasil sobre a Holanda, na semifinal? A conta deu R$ 700!!!! Em 1998!!!! Nem quero atualizar esse valor. Já foi, já pagamos. E valeu cada centavo.
É, Sê, aquela virada de século foi sensacional. Parecíamos um grupo de recém-formados na faculdade descobrindo a vida. Eu, no caso, até era. Tu, uma década mais velho, já estavas meio passadinho.
Brincadeiras à parte, o mais legal é que, ao mesmo tempo em que crescias, trazias quem estava ao teu redor junto. Era como se o teu sucesso irradiasse. Na verdade, era isso mesmo que acontecia. Porque tu és o tipo de cara que puxa os amigos junto. Sempre para cima.
Isso é uma virtude rara. Isso é algo que só um amigo pode te proporcionar. Por isso, Sê, tu tens tantos, por todos os lados. Aposto que, até hoje, o Alééééééécsandro deve lembrar de ti. Lembra dele, nosso guia mirim em Porto Seguro, naquela viagem de 1999 comigo e com o Serginho Villar? Os diálogos de vocês eram maravilhosos:
— Aquele cara é chato.
— Por que, Alecsandro?
— Por que é.
Enfim, Sê, aquele período junto na Editoria de Esportes foi sensacional. Quase 15 anos de companheirismo, diversão, aprendizado e, claro, alguns entreveros. Ninguém é perfeito.
Lembro de um, em 2006, numa reunião de pauta. Eu avancei o sinal, tu deste uma derrapada. Tudo resolvido duas horas depois, com um pedido público de desculpas teu, na frente de todos. Nos abraçamos e seguimos. Para mim, ponto final. Para ti, não. Em 2016, na cobertura da Olimpíada, estávamos jantando só os dois quando tu me surpreendeste:
— Tu és um cara bom. E eu errei contigo aquela vez.
Nem te deixei terminar. Te mandei longe. Aquilo estava arquivado. Seguimos jantando e vendo Chape x Inter no meu tablet. Um minuto depois, veio um comentário teu:
— Que do c*! A Olimpíada rolando, uma segunda-feira à noite, e a gente vendo Chape x Inter aqui.
Rimos juntos e a vida seguiu. Aliás, essa é uma das tuas virtudes que admiro: a facilidade de seguir em frente, de colocar o ponto final e abrir novo parágrafo. Sempre que deparo com alguma situação ruim, me lembro de ti, do quanto ajuda ter leveza, do quanto é importante expelir a preocupação e se concentrar no hoje, no aproveitar cada minuto, no desfrutar, no estar com quem se gosta e no fazer o que realmente importa, com paixão e eficiência germânica. Para mim, esse é um dos teus grandes legados, Sê. O outro é ter me ensinado a observar e a escrever. Esse texto, se ficou ruim, a culpa é tua.
Ah, e antes que eu me esqueça. Esse apelido Sê, do qual a gente se chama, é uma injustiça comigo. Eu, quando liguei para perguntar ao Gabriel Amato se ele estava vindo para o Grêmio, não falei: “Hola, quem sê aí? Acá sê Leo”. Tu sabes quem foi. O Mário Marcos também. Tu, como bom ficcionista, criaste essa história.
Só mais uma entre as milhares que tu, sacana, adora contar.
Fica bem. Abração. A gente se encontra.