O rival desta noite do Inter fez parte de um dos capítulos recentes da história colombiana e esteve vinculado a um dos seus grandes personagens, Pablo Escobar Gaviria. De forma afetiva e também como elemento para que "El Patrón" arquitetasse suas vinganças contra quem imaginava ser inimigo. Aliás, foi dessa forma que o Deportivo Independiente Medellín (DIM) apareceu vinculado a Escobar nos arquivos da Justiça da Colômbia, em que estão registrados os movimentos naquela guerra contra o narcotráfico que deixou o país de pernas para o ar na virada dos anos 1980 e 1990.
A forma como ele se tornou dono do clube mostra bem como funcionava a vida na Colômbia naquela época. Aliás, algo que está muito bem mostrado em duas séries disponíveis na Netflix: Narcos, a partir da visão americana, e Pablo Escobar, El patrón del mal, contada a partir da visão colombiana.
Em um texto publicado na revista Semana, o jornalista Juan Diego Restrepo relata que topou quase por acidente com o nome do Independiente Medellín nos arquivos da Justiça. Ele produzia uma reportagem a partir de documentos da época quando encontrou o depoimento de José Rodrigo Tamayo. Em 1996, Tamayo se pronunciou à Justiça, como parte da investigação dos assassinatos dos irmãos Galeano Berrío e Gerardo Moncada, a mando de Escobar, de quem eram sócios. Ele era dono de 65% das ações do DIM e responsável pela gestão do clube.
Tamayo era amigo de infância de Fernando Galeano Berrío. Talvez esse tenha sido seu azar. Era final de junho de 1992, conta ele no depoimento. Nesses dias, Escobar estava preso em La Catedral, o presídio que ele construiu e no qual decidiu que cumpriria pena, em um jogo de cena com o governo. A reclusão, mesmo com regalias, o forçava a comandar tudo à distância. E a desconfiar até da sombra. Escobar intuiu que os irmãos Galeano Berrío estavam ficando com parte do faturamento do tráfico feito por eles. Tratou, então, de tomar alguns negócios deles. Pela relação entre Tamayo e Fernando, achou que o DIM estava nesta lista.
Segundo Tamayo, um grupo de homens entrou em seu escritório na sede do clube. A primeira pergunta foi se realmente era verdade o boato que corria na cidade, de que ele venderia Valderrama, ídolo da torcida e da seleção. Tamayo disse que sim. O clube havia ficado de fora dos mata-matas e teria cinco meses sem receita alguma.
– Foi quando eles me disseram que eu não poderia vender jogador algum. E que o "Senhor", embora não tenham me dito o nome sabia de quem se tratava, mandava me avisar que eu tinha de entregar o clube e que me enviaria um dinheiro para que não me revoltasse ou brincasse com o tema – relatou o ex-dirigente.
Minutos depois de receber esse recado, Tamayo assinou os documentos da venda. Segundo ele, papéis improvisados pelos emissários de Escobar que ele nem leu, "por já saber do que se tratava". No dia seguinte, ele pegou a mulher e os filhos e deixou a Colômbia. Escobar ficou com o clube do seu coração. Em entrevista concedida à rádio espanhola Onda Cero, em 2017, Juan Pablo, filho do narcotraficante, revelou que ele torcia para o DIM. E tinha como costume organizar peladas em suas casas. Elas terminavam, claro, sempre com o time dele em vantagem no placar.