Talvez nem seja necessário o Juizado do Torcedor proibir a presença da torcida do Grêmio no clássico de sábado. A procuradoria do STJD deve lançar mão nas próximas horas da possibilidade de pedir interdição imediata da Arena através de liminar.
Isso significaria que o clube também estaria impedido de contar com sua torcida em jogos como visitante. A coluna ouviu o ex-auditor do STJD, Décio Neuhaus, que conhece bem os trâmites no tribunal. Segundo Décio, mesmo em meio a um feriadão e com recesso, esse pedido de liminar pode ser encaminhado ao presidente do STJD, Otávio Noronha, através da secretaria. Se ele conceder a liminar à procuradoria nesta terça-feira, por exemplo, o Grêmio já não contará com torcida no Mineirão, na quarta-feira.
Outro ponto ressaltado por Décio é que, como se trataria de uma liminar concedida pelo presidente do STJD, não há possibilidade de recurso para derrubá-la. Até pela questão de tempo hábil para reunir o Pleno.
Em paralelo, correrá a denúncia que será analisada pelos auditores. Sem possibilidade de derrubar essa liminar, o Grêmio terá de correr contra o tempo e tentar antecipar o julgamento. Normalmente, os trâmites consomem 15 dias. Mas, pela gravidade dos episódios da Arena, é possível que isso seja julgado já na próxima semana.
A denúncia do STJD pedirá a interdição da Arena. Mas, nos últimos tempos, o tribunal tem adotado a manutenção dos jogos no estádio do clube, porém com portões fechados. Em 2004, por exemplo, o Grêmio precisou sair de Porto Alegre e jogou com público em cidades como Pelotas e Erechim.
Neuhaus prevê uma mão pesada do STJD sobre o Grêmio. Segundo ele, há uma nova geração de auditores, que assumiram em 2020. Cada auditor pode ficar por oito anos no tribunal. Neuhaus, por exemplo, assumiu em 2012, renovou por quatro anos em 2016 e saiu em 2020.
O episódio de domingo, na Arena, será o primeiro de maior impacto desses novos auditores. Devido à repercussão nacional da invasão do gramado e da súmula do árbitro, que registrou ainda os distúrbios no estacionamento da Arena, a tendência é de que os auditores sejam severos, até para mostrar aos clubes sua linha de ação. A destruição da cabine do VAR, aponta Neuhaus, tem um simbolismo muito forte, pelo fato de representar uma agressão à CBF, organizadora da competição.
O Grêmio deve ser denunciado por desordem praça desportiva e invasão de campo. A lei, além da perda de mandos, prevê multa de até R$ 100 mil em cada uma dessas infrações. A punição mais pesada em caso de distúrbios provocados por torcedores foi dada a Athletico-PR e Vasco, em jogo da última rodada do Brasileirão 2013.
Na ocasião, pelas obras na Arena, os paranaenses mandaram a partida na Arena Joinville. Houve uma confronto entre torcedores na arquibancada, que interrompeu o jogo por mais de um hora. O Athletico perdeu o mando de 12 jogos, sendo seis com portões fechados, e o Vasco, oito, sendo quatro com portões fechados. Dois meses depois, o Pleno reduziu as penas. Os paranaenses levaram nove jogos (sendo quatro sem torcida), e o Vasco, seis (três sem torcida). As multas também foram reduzidas.