Elano, 40 anos, ainda digere a perda da vaga na Série D. Sua Ferroviária fez a melhor campanha, ficou 20 pontos à frente do segundo colocado na classificação geral. Mas caiu nos pênaltis no mata-mata decisivo. depois de dois empates com o Atlético-CE. Isso que o goleiro Saulo defendeu três cobranças. Aliás, seu time só perdeu um jogo na campanha toda, o primeiro. Despediu-se com 19 jogos de invencibilidade. Nesse contexto, Elano, pelo menos, tem um motivo para sorrir.
Yuri Alberto, jogador que ele lançou aos 16 anos no Santos, decola no Inter e comprova tudo o que apostou ao promovê-lo em 2017. Por telefone, Elano conversou sobre o atacante com a coluna. Confira a entrevista:
O contato é para falar do seu afilhado aqui no Inter, o Yuri Alberto. Foi você que o lançou no profissional, não?
Encontrei com ele há uns 15 dias. Quando jogamos com o Esportivo, treinamos no CT do Inter. Yuri é um menino muito do bem. Acompanhei-o desde a base no Santos. Ele, o Rodrygo. Subi os dois juntos para o profissional. Ele é um ano mais novo do que o Rodrygo. Mas eles eram duas potências que via na base do clube. Conversava bastante com o Yuri, via nele uma potência física, um jovem que usa os dois pés para o chute. Hoje, o vejo no lugar certo, no time certo, em que encaixou-se a característica dele. O Yuri se identifica muito com o estilo de jogo aó do Sul. O Inter fez muito bem para ele. O que o Yuri sabe é fazer gol. é jogador que briga o tempo todo. Sei o quanto isso é valorizado aí. Em resumo, é um centroavante aguerrido e que faz gol.
Mas desde jovem já exibia essas características?
Ele sempre foi assim, desde a base. Sei porque o acompanhava muito. No turno de folga do profissional, eu assistia aos treinos das categorias menores. Nesse tempo em que fiquei no Santos, fiquei quase um ano acompanhando o Yuri, o Rodrigo, o Vítor Yan, o Bambu, o Pirani. Esse treinou comigo no profissional com 13 anos. O Dorival era o técnico e me autorizou a trazê-lo, para ser um coringa em trabalhos de campos reduzidos. Sempre subia dois meninos da base por semana para treinar no profsisonal. Todos os garotos passaram por algum treino no principal. O Yuri, o Rodrygo, o Kaio Jorge, o Sandry já estavam na frente para subir. Mas o Yuri e o Rodrygo chegaram antes, por emergência. Ficaram integrados, viajando e treinando. Quando eu assumi, acabei lançando-os.
Você jogou na Europa. Consegue vislumbrar o destino para o Yuri?
Vejo com potencial para o futebol inglês e o italiano, que exige do atleta guerrear o jogo todo, sem que perca a qualidade técnica por isso. Yuri tem força física elevada, tem só 20 anos, está em um grande clube, potencializando-se com isso, cercado por grandes profissionais. Ele vai se tornar cada vez mais forte e agressivo.
Ele o surpreendeu pelo crescimento físico que teve nesses últimos dois anos?
Ele mudou fisicamente, está muito forte. Quando nos encontramos aí no CT do Inter, eu brinquei com ele: "Caramba, você cresceu ou eu que diminuí?". Essa potencialização física é importante, tem muita saúde e está em dia.
Mas na base ele já era um jogador de potência física, que sobrava em relação aos demais?
Sempre foi assim. E um menino do bem. Aliás, todos os meninos que trabalhavam comigo tinham esse perfil. Só que eu os batia no futmesa direto (risos). Eu não sei se o Inter vai segurar o Yuri por muito tempo. Ele tem conquistas individuais e bons números. Inevitável que os grandes clubes venham atrás, está todo mundo procurando esse tipo de atacante. Yuri lembra muito o Batistuta, tem força, potência. O Batistuta era um cavalo de força. Li uma entrevista do Batistuta em que ele contava que, ao arrematar, mirava na cara do goleiro, que, claro, iria tirar a cara da bola. Vejo o Yuri com potencial bem parecido.
Com quantos anos você o subiu?
O Yuri chegou ao profissional com 16 anos, em 2017, e jogou comigo naquele final de Brasileirão, quando eu assumi (para os últimos sete jogos). Os caras ficavam bravos, ele dava uns pisões nos pés dos caras. Ele sempre foi muito agressivo, eu comentava isso nas nossas conversas. Era um pouco afoito, por querer fazer tudo de uma vez. Agora, amadureceu. Ele perdeu alguns gols no Santos, não tiveram paciência e acabaram liberando-o.
Para encerrar, o que há na água da Vila Belmiro para surgir tanta gente boa?
O Santos propicia isso, o torcedor valoriza o que tem na base, prefere um time formado com o que faz em casa a um time com muitos jogadores contratados. Isso faz com que os meninos joguem mais tranquilos, é algo muito positivo. A base do clube tem muita qualidade, os profissionais, no período em que estive lá, eram de ponta. Acredito que siga nesse nível. Ma so principal é que a torcida apóia essa política de formação e tem a compreensão de que o jovem vai oscilar. Dificilmente, eu via um torcedor xingando um menino. Olha que cheguei lá com 19 anos.