Para entender um pouco mais sobre o ambiente do qual veio Jaminton Campaz e captar a visão dos colombianos em relação aos poucos minutos dele no Grêmio, a coluna foi ouvir o repórter Julian Capera, da ESPN colombiana.
Capera vive em Bogotá, mas está ligado umbilicalmente a Ibagué. Nasceu na cidade do Tolima e vive de perto o clube e a cidade, já que sua família segue lá.
Na conversa com Capera, tem-se uma ideia de quem é Campaz e também ganha-se subsídios para entender como um jogador que saiu da Colômbia por uma cifra recorde (lá e aqui) vive momentos de ostracismo no Grêmio. Confira.
Quem é o Jaminton Campaz contratado a peso de ouro pelo Grêmio?
Primeiro, para falar sobre o jogador, todos coincidimos em relação ao talento que tem. A capacidade que tem para fazer diferença no campo terminou levando-o ao Brasil. É uma das grandes promessas do futebol colombiano. Nas suas últimas aparições aqui, pelo Tolima, todos tínhamos claro que, rapidamente, ele iria para uma liga mais competitiva. Por essas atuações também recebeu o chamado da seleção colombiana. E foi para uma Copa América, numa convocação que tem muita relevância.
Há muitas especulações aqui sobre o pouco aproveitamento no time principal. Há até especulação em relação ao comportamento dele. Como é o Campaz que vocês conhecem tão bem?
Nunca teve problemas de mais transcendência. Certo é que se trata de um jogador jovem, demonstra que falta algum grau de maturidade para assumir as oportunidades que recebe do futebol e da vida. Está rodeado de muita gente, de muitos amigos, as vezes passam a ele algo que os amigos fazem e, sobre os quais, não exerce influência alguma. Cria-se alguma dificuldade. Há uma informação que, na Copa América, teve problemas de disciplina e que a comissão técnica decidiu não contar com ele na lista seguinte. Porém, nada disso foi provado nem assumido pelas partes envolvidas.
A trajetória de Campaz no Tolima sempre foi muito observada?
Desde que era muito pequeno, que foi quando chegou à cidade de Ibagué, onde já vivia Mike Campaz, seu irmão mais velho (hoje, com 33 anos) e que jogava no Tolima. Jaminton sempre esteve vinculado a Ibagué, foi das categorias de base quase a vida toda, passou por todas as etapas. Ele nasceu em Tumaco, mas tem vínculo grande com Ibagué. As pessoas já sabiam quem era Jaminton Campaz desde cedo por causa do irmão.
Mike ainda joga?
Mike Campaz não está jogando. Foi um atleta com algum impacto na liga colombiana, mas nunca teve a possibilidade de ir um futebol mais competitivo e a uma equipe transcendental como fez o irmão mais novo.
Como vocês, aí na Colômbia, enxergam essa falta de minutos de Jaminton?
Chama a atenção. Quando estava para ser fechado o negócio, tratamos de seguir de perto, de informar. Vimos o interesse gigante dos torcedores do Grêmio por qualquer informação publicada. Havia uma repercussão imensa. Nos demos conta, com isso, da expectativa grande criada em torno desse jogador. Quando atuou seus primeiros minutos (contra o Flamengo, pela Copa do Brasil), imaginamos que ele seria levado em conta aí no Grêmio. Quando começa a passar os jogos e revisamos as estatísticas, nos demos conta de que não aparece Jaminton e isso chama a atenção.
Ele teve problemas físicos ou técnicos no Tolima?
Aqui, não teve problemas físicos. Seria raro se esse pouco uso dele tiver relação com alguma questão física. Chama a atenção que não se use um jogador pelo qual se pagou tanto, uma cifra que o Tolima não está acostumado a receber. Não deixa de nos parecer estranho.
Essa foi a maior negociação da história do Tolima? Esse valor bancaria a temporada inteira do clube?
Provavelmente, mais uma temporada, sim. Não é comum esse tipo de transação aqui na Colômbia. O certo é que o Tolima se converteu em um clube vendedor, mas não para times da Colômbia. Ele aprendeu a fazer negócios com estrangeiros. A cifra que se pagou por Jaminton, se não é a mais alta, é a a segunda ou a terceira na história do clube. Não é normal que o Tolima receba tanto por um jogador.
Você mora em Bogotá, mas é de Ibagué. Que cidade é essa?
Não é uma cidade grande, hoje tem cerca de 600 mil habitantes. Fica a quatro horas de Bogorá. Ibagué é importante para o desenvolvimento do país, conecta Bogotá e Cali, que são os dois principais centros da Colômbia. Esta no meio do caminho entre essas duas cidades. A economia é essencialmente agrícola, tem um setor industrial, mas voltado para a agricultura. Nos últimos anos, Tolima, que é o Estado, teve crescimento econômico importante.
Ou seja, nesse contexto, Jaminton Campaz era uma estrela local?
Por não ser uma cidade grande, um jogador como Jaminton é conhecido por todos. As figuras públicas em Ibagué têm reconhecimento de toda a cidade.
Ibagué é uma cidade com opções de entretenimento, restaurantes?
Quanto ao entretenimento, tem alguns lugares para que se vai comer, bons restaurantes. Tem alguns locais de festa que os jovens frequentam. Nesses lugares se via algumas vezes Campaz com seus amigos. Outra característica de Ibagué é ser conhecida como uma cidade musical, essa cena artística tem muita força lá. A cidade tem escola que forma músicos do país inteiro.
Você acredita que esse salto de Ibagué, onde era conhecido por todos, para o Brasil esteja afetando Jaminton?
Implica em um desafio importante para ele ir a outro país que é muito maior. Não conheço Porto Alegre, mas estive em algumas cidades do Brasil e é impactante ver a dimensão e dinâmica que elas têm. Claro, seria mais traumático para Jaminton se tivesse ido à Europa. Mas Brasil e Argentina são boas escalas aos jogadores colombianos, permitem ajudar na formação quando ao futebol e ao caráter. Servem para provar que estão preparados e prontos a jogar no melhor futebol do mundo, que é a Europa.