Quatro presidentes em um ano, dívidas trabalhistas, adeus de 28 jogadores em meio à temporada, salários atrasados e com alto risco de queda para a Série D. Este é o cenário do Paraná, que em 2018 disputou a Série A e até alguns anos ostentava, entre os clubes de Curitiba, o maior patrimônio, com diferentes sedes, fruto ainda da sua fundação, em 1989, com a fusão do Colorado e do Pinheiros.
A crise de uma das camisas mais importantes do Sul do Brasil tem sua primeira encruzilhada no domingo (12). O Paraná recebe o Mirassol, em confronto direto na luta contra o rebaixamento. Os paulistas estão três pontos à frente. Mesmo que vença, o Paraná ainda precisará, nas duas últimas rodadas, superá-los nos critérios. Ou seja, é preciso que o Mirassol tropece.
Campeão da Copa do Brasil e da América pelo Grêmio, o goleiro Bruno Grassi é a principal liderança neste atual Paraná. O grupo tem se manifestado contra os atrasos. No sábado, antes de ganhar do Criciúma, os jogadores se negaram a concentrar e se encontraram, horas antes do jogo, em um prédio próximo à Vila Capanema, onde moram alguns atletas. De lá, foram a pé, em grupo, para o jogo. A entrada em campo também foi retardada, em sinal de protesto. Uma luz começa a aparecer, me garantiu Bruno, na quinta-feira (9), por telefone.
A nova direção, que assumiria em dezembro, teve a posse antecipada para a próxima semana. Mas já colocaram a mão na massa e prometeram quitar, pelo menos, um mês de salário. Rubens Ferreira da Silva assume a cadeira que neste ano foi de Leonardo Oliveira (renuncioiu em janeiro), Sérgio Molletta (renunciou em abril) e era ocupada por Luiz Carlos Casagrande, nomeado para fazer a transição. Confira meu papo com Bruno.
O que houve com o Paraná?
Pois é, a situação não veio de agora, é de alguns anos. A nova diretoria, que assumirá no dia 14, já começou a dar as novas diretrizes, está tentando resolver os problemas. Isso nos ajuda, ficamos cinco, seis meses sem nenhum respaldo da diretoria. Entrou uma empresa (a FDA assumiu o futebol em junho e saiu em agosto, por falta de pagamento), as coisas não andaram bem. Por sorte, essa nova diretoria se prontificou a assumir o clube antes da posse, que seria em dezembro.
Vocês estão com salários atrasados. Ouvi uma entrevista tua em que revela ter recebido apenas um mês inteiro em 2021?
Até agora, a nova direção se prontificou a quitar parte. Em específico eu, salários completos, só tinha recebido um mês desde que cheguei aqui, em fevereiro. Sempre houve resquício de débito. A nova diretoria está resolvendo, se prontificou de, nesta sexta, pagar uma folha. Estamos vendo disposição deles e se sentindo respaldados para poder tirar o time desta situação.
Quantos jogadores permanecem desde o começo da temporada?
Eu e mais uns dois, três, porque o grupo foi muito mexido.
Sempre ouvi que o Paraná, pelas fusões, era o mais rico em patrimônio em Curitiba. Mas isso também se perdeu, com vendas.
O clube tem estrutura física muito boa. O CT Ninho da Gralha é muito obm, com espaços bem equipados, uma academia muito boa. Só que aconteceu tudo isso... Quando chegamos, em fevereiro, não havia essa empresa no comando do futebol. Ela entrou no meio do ano, trouxe jogadores contratados por ela. Como a empresa saiu, muitos desses atletas também se foram.
Há, pelo menos, uma base de time?
Temos um grupo bom, estamos nos fortalecendo a partir do discurso de que o Paraná tem uma história que precisa ser preservada e de que essa é uma oportunidade para todos os jogadores. Impedir a queda não deixa de ser uma chance para a gente se mostrar ao mercado. Temos uma oportunidade, e o jogo de domingo dirá muita coisa.
Você, quando chegou, sabia dessa situação toda do clube?
Eu estava no CSA, que está muito organizado. Antes, estive no Criciúma, que está se reorganizando. Agora, estamos vendo vontade nesses novos dirigentes em colocar a casa em ordem, e isso nos motiva. Quando vim,quem me trouxe foi o Moisés, que era o diretor. A imagem que me passaram era de um clube que estava se reestruturando. No Paranaense, fomos até as quartas, caímos para o Athletico.
O técnico, nesta reta final, é o auxiliar, que assumiu de forma interina. Li que muitos jovens da base estão subindo.
Agora, estamos com grupo pequeno, mas muito motivado. Em relação ao Paraná, é questão mesmo de organização. O clube tem camisa, tem história, logo vai subir de novo. Só precisa melhorar as condições, por está numa cidade muito boa, tem estrutura de clube grande. Só questão de organizar mesmo.
Você disse que, desde fevereiro, só recebeu um mês completo. Como vive? Está usando as economias dos tempos de Grêmio?
Se não entra, de algum lugar sai. Procuro ser organizado, de certa forma conter os gastos, diminuir padrão de vida, para viver esse momento.
Você, depois do último jogo, disse que havia jogadores em dificuldades até para comer. Como supera isso?
Alguns passaram dificuldades, em alguns momentos, eu, como um dos líderes, procurei, de certa forma, com respeito, externar, que companheiros estavam com problemas financeiros. Mas, acredito, isso faz parte do passado já.
Nesse cenário, com uma nova direção, o plano é buscar novos ares em 2022?
Tem aparecido algumas coisas boas, mas eu vou esperar acabar, definir a situação aqui do Paraná, para pensar no futuro. Estou com 34 anos, me cuido. Fisicamente, estou muito bem. não fico fora de treino e de jogo. Apesar da situação do clube, tenho vivido momento muito bom. Nessa última partida, fui para a seleção da rodada. Tenho motivação para crescer. Não quero que minha carreira desça. Tenho coisas a fazer.