Mathias Villasanti chegou a Porto Alegre no final da tarde desta terça-feira como mais do que uma contratação. Pode-se dizer que o paraguaio de 24 anos é um símbolo do que Felipão pretende para o seu Grêmio. Explico.
A Era Renato ficou marcada por um Grêmio cuja ideia de jogo estava alicerçada em seus volantes de toque, de um jogo mais técnico do que intenso e viril. Eram jogadores que agrediam o adversário com a bola.
Maicon é o emblema desse conceito que vigorou entre 2015, ainda com Roger, até março deste ano. É verdade que esse ciclo teve seu ponto final com um futebol já capenga e longe dos melhores dias, cristalizado no declínio técnico do Grêmio.
Esse modelo de toque e de futebol envolvente está longe do que pensa Felipão sobre futebol. Desde que voltou ao Brasil, o técnico se tornou um obsessivo pelo jogo de transições rápidas. Seu modelo de futebol é vertical, direto, quase expresso ao gol.
Ou seja, há um hiato entre o Grêmio que assumiu, com meio-campistas mais cadenciados, e o Grêmio que pensa como ideal. Villasanti chega para fazer essa ponte. Trata-se de um legítimo camisa 8, daqueles que atuam de área a área, híbrido, que ataca e defende na mesma velocidade.
Segundo jornalistas paraguaios com os quais conversei, tem características que fazem dele um meio-campista, ou seja, aquele jogador que é volante e meia ao mesmo tempo. Seu jogo se baseia na movimentação e na troca rápida de passes.
— É volante mais ofensivo, de jogo mais central, podemos dizer que é praticamente completo — me relata o repórter Darío Ibarra, do ABC Color.
Os mapas de calor dos três jogos em que Villasanti esteve na Copa América comprovam essa característica multifuncional relatada pelo colega paraguaio. É possível perceber um jogador de dinâmica e chegada à frente. Segundo Ibarra, o chute de meia distância está fora do seu portfólio, mas ele busca o arremate através da infiltração.
Tanto no Cerro quanto na seleção, era quem saía para o jogo, tendo Lucena como um jogador mais fixo. Se recuarmos no tempo, veremos que o Palmeiras de Felipão adotava ideia parecida, com Felipe Mello ou Thiago Santos guardando posição e Bruno Henrique saindo para jogar. É isso que ele busca com o paraguaio, numa mudança bem radical em relação à composição de volantes usada até pouco tempo na Arena.