Você já deve ter ouvido falar do filme "Moneyball, o homem que mudou o jogo", dirigido e estrelado por Bread Pitt. Nele, o astro interpreta Billy Beane, gerente geral do Oakland Athletics, time de beisebol que disputa a Major League Baseball (MLB), a NBA e a NFL que usa taco. Beane entrou para a história do beisebol norte-americano ao mudar a forma de contratar jogadores. Em vez do empirismo de olheiros veteranos que corriam o país atrás de talentos, ele adotou a partir da temporada 2002 um algorítimo para identificar atletas com potencial, mas que custavam uma ninharia. Deu certo, o Oakland saiu da posição de figurante, e Beane ganhou tanta projeção que virou vice-presidente da franquia e, a partir de 2015, passou a aplicar seu método no Az Alkmaar, time de futebol da primeira divisão da Holanda. Em 2020, ele virou sócio e adquiriu 5% do clube.
Bom, todo esse preâmbulo é para situá-lo na ponte que ligou a versão futeboleira do Moneyball com o Inter. O dinamarquês Midtjylland, que acaba de comprar Charles, do qual o clube gaúcho detinha 50%, adota a mesma linha de ação no mercado. O clube criou um algoritmo para decidir suas contratações. Certamente, chegou ao volante gaúcho a partir de análises de dados. Aliás, é uma premissa do clube: seus olheiros seguem como regra básica só observar o jogador ao vivo quando for para fechar o negócio. Essa abordagem serve apenas para conhecer pessoalmente ou convencer o atleta a morar na Dinamarca. A parte técnica do relatório, essa é feita a partir dos dados colhidos nas estatísticas ou em jogos assistidos pela TV ou streaming.
O projeto Midtjylland é o segundo capítulo de um caso de sucesso quem tem o milionário Matthew Benham como cabeça. Benham, físico formado em Oxford, criou com um grupo de matemáticos empresas que fornecem, a partir de algoritmos, as melhores opções em sites de apostas de futebol. Em 2012, ele comprou o Brentford, clube do qual era torcedor desde a infância. Ali, começou a aplicar sua versão de Moneyball. Por exemplo: através dos algoritimos, percebeu que a segunda divisão francesa era um bom mercado de jogadores com qualidade, força física e que custavam uma pechincha. Depois de bater na trave por dois anos, o Brentfor acaba de voltar à elite inglesa, depois de 74 anos.
Em 2014, Benham comprou o Midtjylland. Seguiu indicação do seu sócio e amigo dinamarquês Rasmus Ankersen. O clube, fundado em 1999, era um terreno fértil para inovações como as pretendidas pelo inglês. Arkensen é quem toca o Midtjylland, que nesta nova era tem um tri nacional e uma Copa da Dinamarca e figurou na fase de grupos da Liga dos Campeões. Nesta temporada, joga contra o Celtic pela fase preliminar. Quem já visitou o clube o define como um Google do futebol. Não só pelo uso de dados, mas também pela estrutura física, com todos os setores abrigados juntos em um imenso salão e uma constante troca de informações sem barreiras. Ou seja, no mesmo ambiente, estão analistas de desempenho, funcionários do marketing e o setor financeiro. É para esse mundo novo do futebol que Charles está chegando. Que ele tenha sorte e, principalmente, a cabeça aberta.