O Brasiliense já teve dias mais luminosos. Principalmente os seus primeiros de vida. Fundado em agosto de 2000, foi vice-campeão da Copa do Brasil e campeão da Série C em 2002, campeão da Série B em 2004 e disputou a Série A em 2005. Mas, a partir daí, foi perdendo terreno.
Manteve-se na Série B até 2010. Entre 2011 e 2013, figurou na Série C. Em 2014, seu primeiro ano na Série D, perdeu o acesso nos pênaltis para o Brasil-Pel. A partir daí, sua luta é buscar um lugar na Quarta Divisão para tentar trilhar um caminho de volta. O vice do Candangão 2020 garantiu a vaga na pré-Série D. Enfrentou o Real Ariquemes, de Rondônia, e avançou para integrar o Grupo A5, com Gama, Aparecidense, Goianésia, Jaraguá, Nova Mutum, Porto Velho e União Rondonópolis.
Em paralelo à queda do clube, estão relacionados os problemas judiciais que seu dono, o ex-senador Luiz Estêvão, passou a enfrentar. Em 2016, Estêvão começou a cumprir a pena de 26 anos de reclusão no Complexo da Papuda, penitenciária federal de Brasília. Ele havia sido condenado por peculato, corrupção ativa e estelionato, relacionados às obras do TRT de São Paulo, o famoso caso do juiz Nicolau dos Santos Neto, o Lalau.
Em abril de 2019, ele progrediu para o semiaberto. Mas, no ano passado, passou a cumprir pena domiciliar, por alegar sintomas de covid-19 – aos 71 anos, ele foi vacinado em março. A previsão é de que progrida para o regime aberto em novembro. O fato é que, nesse período na Papuda, Estêvão viu o seu Brasiliense ganhar o Candangão, como é chamado o estadual, em 2017. No ano passado, o clube ganhou a Copa Verde e, há 10 dias, comemorou outro campeonato.
A guria que manda
O Brasiliense é apenas um dos braços do Grupo Ok, o conglomerado de Estêvão. Além do clube, ele tem negócios no ramo imobiliário e o site Metrópoles, um dos mais relevantes de Brasília. O clube, ele deixou nas mãos da filha, Luiza, a caçula de seis irmãos. O ex-senador viu na guria, na época com 20 anos, o perfil para administrar e conduzir o time a dias melhores.
Aos 24 anos, Luiza não se apresenta como presidente. Diz que esse posto pertence ao pai. Ela se diz a vice, mas é quem, de fato, toma quase todas as decisões. No departamento de futebol, ela conta com dois diretores remunerados. A última palavra, nas contratações, é dela.
Luiza é uma figura presente. Assiste a treinos, acompanha a delegação em viagens e mantém uma relação direta com os jogadores. A idade ajuda a se comunicar de forma mais direta com os atletas. A relação é franca e, pelas imagens na comemoração da Copa Verde, também é saudável. Os jogadores a atiraram para o alto e ainda a fizeram segui-los na promessa de descolorir o cabelo. No caso de Luiza, foram algumas mechas. Afinal, o cargo exige certa erudição.
Vilson Tadei, o meia
Quem cresceu nos anos 1980 vai lembrar bem dele. Vilson chegou ao Grêmio vindo do Coritiba. Meses depois, foi um dos nomes na primeira conquista do Brasileirão, em 1981. Até hoje, ele aponta o 3 a 2 sobre a Ponte Preta, na semifinal, como o maior jogo da sua carreira. Tadei fez um gol e deu passe para outros dois. A partida, em Campinas, encaminhou a ida à final — o jogo de volta foi o recorde e público do velho Olímpico: 98.421 pessoas.
Tadei ainda voltou ao Estado para jogar no Inter, em 1983. Dez anos depois, ele iniciou a trajetória de técnico. Boa parte dela foi em clubes do interior paulista. Em dezembro, ele trocou de lado em Brasília. Um dia depois de deixar o Gama, acertou-se com o Brasiliense, o maior rival.
Aos 67 anos, Tadei volta a encontrar o Grêmio e conhecerá a Arena. No Brasiliense, no dia a dia, ele brinca com os amigos, se referindo ao mágico ano de 1981:
— O Grêmio era um e, depois que eu cheguei, virou outro.
Sucuri, Tobinha e Jorge Henrique
O Brasiliense segue fiel à estratégia de apostar em medalhões. O grande astro do time é Zé Love. ex-Santos e que passou pela base do Grêmio. Mas há outros conhecidos nossos, como Jorge Henrique e Carlos Eduardo, que por recém voltar de lesão nem veio para Porto Alegre. O time também conta com alguns nomes locais e que ainda preservam uma tradição antiga do futebol brasileiro, a dos apelidos.
O goleiro é Edmar Sucuri, assim conhecido pela estatura e pelo hábito de jogar sempre de preto. Na zaga está Badhuga, cria da base do Brasiliense. Aqui, para o Pedro Ernesto, que narrará o jogo na Rádio Gaúcha: pronuncia-se Badiuga. Outro jogador vindo da base é o meia Peninha, candango de nascimento e no time desde 2012. O lateral-esquerdo atende por Goduxo.
Para a partida em Porto Alegre, Vilson Tadei não terá o meia-atacante Tobinha, um baiano de 27 anos e que, até 2020, jogava futebol amador. A pandemia o deixou sem time e abriu caminho para um convite do Atlético de Alagoinhas. A campanha no vice baiano o levou para o Brasiliense. Histórias do futebol, daquele que, ainda bem, conserva os apelidos.