Oficialmente, a partida contra o La Equidad, nesta noite, é a estreia do Grêmio na Copa Sul-Americana. O jogo, no entanto, é muito mais simbólico do que isso. Nesta quinta-feira, estará se iniciando um novo ciclo no clube. Mesmo que Tiago Nunes, o novo técnico, esteja apenas na tribuna, assistindo, e um outro Thiago, o Gomes, esteja na beira do campo, pode-se dizer que a partida contra os colombianos já será o recomeço. É como se o 2021 estivesse começando agora.
O torcedor verá nos próximos dias a montagem de um novo time. Não em peças, necessariamente, mas em ideias e conceitos. Podem ficar certos disso. Observando os dois últimos trabalhos de Tiago Nunes e conversando com colegas que o acompanharam de perto, quase com lupa, fica a certeza de que ali na frente um Grêmio diferente daquele dos últimos quase cinco anos dará as caras na Arena.
O sistema de jogo até deve ser o mesmo usado por Renato. O novo técnico também gosta do 4-2-3-1. A forma como as peças vão se movimentar e a dinâmica com que isso vai acontecer, porém, será totalmente diferente.
Tiago usou esse sistema no primeiro ano de Athletico e no Corinthians. Só abandonou-o no segundo ano na Arena da Baixada porque perdeu seu meia central, Raphael Veiga, me reforça o comentarista da RPC Cristian Toledo. No Corinthians, essa figura era para ter sido Luan, por quem o clube pagou 5 milhões de euros. Isso faz da centralidade de Jean Pyerre a primeira novidade da Era Tiago. O futebol do meia será potencializado.
Aliás, o novo técnico é um admirador do futebol de Jean. Os dois foram campeões, pelo Grêmio, da Copa FGF Sub-15 em 2013. Havia entre eles uma relação muito estreita. Como é comum nas categorias de base, as famílias estão sempre próximas. O que criou uma conexão forte dos pais do meia com Tiago. Não foi à toa que o treinador tentou levá-lo para o Athletico-PR em 2019. O resgate definitivo do camisa 10 deve ser o primeiro emblema deste novo Grêmio que começa a se formar nesta quinta-feira.
O jogo de Tiago
Tanto no Athletico-PR quanto no Corinthians, Tiago Nunes mostrou princípios que norteiam suas ideias de futebol. E eles são diferentes do que fazia o Grêmio até a semana passada. O técnico gosta de uma saída limpa com a bola da defesa, geralmente feita com linha de três, formada a partir do recuo do volante.
O goleiro participa, e os zagueiros só usam a ligação direta como último recurso. No Coerinthians, Gil sofreu um pouco com isso, por ser um jogador mais de imposição e força, me conta o repórter Rodrigo Vessoni, do site Meu Timão. No Grêmio, Kannemann segue na mesma linha. No Athletico-PR, Léo Pereira era quem tinha mais refino para sair com a bola, embora Thiago Heleno também cumpria essa tarefa. Quem tinha participação decisiva nessa conexão com o ataque era o volante Wellington – isso a partir de 2019, quando se fixou como titular.
O jogo de Tiago (2)
Outra característica do novo técnico é de adotar como princípio de jogo a transição rápida entre a defesa e o ataque. A ideia é concluir a jogada o mais rápido possível – sem ser açodado, claro. Essa é outra mudança significativa que o Grêmio deve ter em relação à Era Renato, na qual o jogo era proposto com troca de passes mais demoradas para envolver o adversário.
No Corinthians, recorda Rodrigo Vessoni, a saída de três de trás repercutia em um avanço dos laterais, por vezes além da linha central. O que não representa dificuldade para o Grêmio, afinal, tanto Vanderson e Rafinha quanto Diogo Barbosa são agudos. Quem precisará passar por uma adaptação é Matheus Henrique, que terá de verticalizar mais seu jogo.