Se o primeiro confronto pela segunda fase preliminar da Libertadores foi um passeio, o próximo se desenha com um caminho de alguns espinhos. Assisti na manhã desta quarta-feira (17) à vitória do Independiente del Valle sobre o Unión Española. Mesmo descontando a fragilidade dos chilenos, podemos dizer, sem receio, que é bom o Grêmio abrir o olho. Principalmente, com o jogo de ida em Quito, em 7 de abril.
Os equatorianos jogam um futebol de qualidade, ainda com muitos elementos do jogo de posição implantado por Miguel Ángel Ramírez, no qual foram acrescidos pelo português Renato Paiva uma liberdade de posição maior para os jogadores da frente.
O sistema básico é um 3-5-2. Mas isso é só ponto de partida. Com a bola rolando, percebe-se uma equipe consciente dos movimentos a serem feitos em campo. Que envolve com trocas de passes e mostra claramente o uso do conceito do homem livre, para criar superioridade numérica. Isso se nota já na saída de bola da defesa, sempre limpa. O goleiro Ramírez, um dos quatro titulares feitos em casa, participa ativamente. Fica nítido que o Del Valle troca passes para atrair o avanço das linhas do adversário e acelera para ocupar os espaços às costas delas. Olho no zagueiro canhoto Segóvia. Na saída, ele vem quase como lateral-esquerdo e faz lançamentos ou inversões com qualidades.
Renato Paiva, buscado na base do Benfica para dar seguimento ao trabalho de Ramírez, mexeu o time em duas posições em relação ao jogo no Chile. Colocou o ala direito Sánchéz e o meia-atacante Vite, outros feitos em casa. O que deu mais velocidade ao time na transição. SSánchez e Bedder Caicedo, o quarto vindo da base, os alas, jogam como pontas abertos e dão amplitude. O terceiro gol surge de um cruzamento ao lado da área de Sánchez em pênalti sofrido por Caicedo no meio da área.
No meio, Pellerano, 39 anos, é o líder do time. Se com Ramírez ele era o organizador, agora ele divide essas funções com Faravelli. Na fase defensiva, Pellerano recua e forma linha de quatro na zaga. Faravelli joga entre as duas áreas. Pela direita, Vite é híbrido de meio-campo e atacante. No segundo gol, ele recua para atrair a marcação e cria o espaço para Sánchez entrar em profundidade.
Na frente, estão Ortiz, argentino de 28 anos, e Brian Montenegro, paraguaio de 27 anos, são movediços e se conversam bastante, alternando entre atacantes de lado e referência. Essa movimentação deles tira do lugar a zaga e cria o vazio para o ingresso de quem vem de trás ou em diagonal, como faz o ala Caicedo.
É evidente que a fragilidade do Unión Española facilitou para que o Del Valle impusesse o seu jogo. Mas o alerta aqui é de que se trata de um time com um modelo claro de jogo, que faz os movimentos para desmontar a marcação adversária de forma mecânica e, mais do que isso, usa a altitude a favor, com um volume alto de jogo. O Grêmio, pela qualidade e pela tradição, é favorito. Mas o confronto, podem apostar, será duro.