Em um momento no qual a discussão com relação a técnicos estrangeiros no Brasil recrudesce, uma rápida passagem de olho pelos campeonatos em atividade na América do Sul mostra que ainda precisaremos correr um bocado nos livros para alcançar nossos vizinhos. Pelo menos campo acadêmico da bola. A Associação de Treinadores do Futebol Argentino (ATFA) , cujo curso funciona como uma fábrica de técnicos por lá, ostentava não apenas o líder e o vice-líder do Brasileirão, mas também representantes na parte alta da tabela no Peru, no Paraguai e no Chile.
No Peru, Ángel Comizzo comanda o líder Universitario. No Paraguai, o líder Cerro aposta em Chiqui Arce, mas é seguido por Olímpia (Daniel Garnero), Libertad (Ramon Díaz) e Guaraní (Gustavo Costas) são comandados por hermanos. No Chile, além de Ariel Holan, primeiro colocado com a Universidad Católica, Juan Vovojda comanda o terceiro colocado, La Calera, e Héctor Almandoz, o quarto, Antofagasta). Segundo levantamento de junho do Cies, observatório mundial e centro de pesquisa do futebol, a Argentina era o maior exportador de técnicos, om 68 profissionais. A seguir, vinha a Espanha , com 41, e Sérvia, com 34. O Brasil era o nono, com 16.
A ATFA é o braço acadêmico da AFA. Seu curso de treinadores é reconhecido pelas principais confederações continentais. Na Uefa e na AFC (Ásia), equivale à licença A e permite comandar qualquer clube de futebol por lá. O curso é dividido em quatro etapas (Pro, licença A, B e C). Para completá-lo, é necessário começar, claro, de baixo. A licença C, por exemplo, exige sete meses de estudo. Na Pro, são 11 meses de estudo, 18 disciplinas e uma tese de conclusão de curso. Na Argentina, são mais de 20 escolas no país - uma delas, inclusive, é dentro das dependências do River Plate e foi lá que D'Alessandro começou a tirar sua licença de treinador em 2016. Mas é possível obter a licença no modelo de ensino à distância. Há, inclusive, uma versão em português do curso. A única exigência nessa modalidade é fazer as provas finais em Buenos Aires.
Tite e o estudo
O técnico da Seleção Brasileira assumiu neste período pós-quarentena uma posição digna do número 1 do Brasil. Na entrevista coletiva de sexta-feira, quando anunciou os convocados para os jogos das Eliminatórias, Tite calculou que o futebol brasileiro está "defasado de 20 a 30 anos" em relação a estudo do futebol e que, agora, "corre atrás do tempo". Há bons cursos no Brasil, como os das Universidades do Futebol e de Viçosa (MG) e as próprias licenças da CBF Academy. Na noite de segunda-feira (21), no programa Bem, Amigos, o técnico cobrou uma proteção ao trabalho dos técnicos, com a limitação no número de trocas pelos clubes no Brasileirão. Tite pegou essa bandeira e tomou a dianteira para que o futebol brasileiro saia da intuição. Inclua-se nisso dirigentes, torcedores e, claro, nós, jornalistas. Palmas para Tite.