Você deve ter escutado o Sala de Redação desta sexta-feira (17) pelas ondas da Gaúcha ou plugado no aplicativo de Gaúcha ZH no rincão em que estava, seja numa coxilha lá no Alegrete ou numa praia da Austrália. E certamente deve ter gostado do que ouviu, porque foi um programa diferente. Mais gaúcho do que genuinamente já é.
O Sala desta sexta fez o que os gaúchos mais gostam de fazer no verão: ir praia. E nada mais praiano do que sentar na varanda de casa e conversar refrescado pela brisa que vem do mar. Como fizemos com os presidentes Romildo Bolzan, do Grêmio, e Marcelo Medeiros, do Inter, por uma 1h30min no ar e mais duas ou três fora dele.
A ideia do Pedro Ernesto ao abrir as portas de sua casa em Atlântida para receber os dirigentes da Dupla e o Sala era dar formalidade ao pontapé inicial do noticiário dos dois clubes em 2020 e projetar um ano em que podemos ter dois Gre-Nais — pelo menos — pela Libertadores. Se tivesse escolhido de forma proposital a data e a hora para isso, o Pedro não teria sido tão certeiro. O Sala foi precedido por uma entrevista estremecedora do zagueiro Kannemann no CT Luiz Carvalho, em que criticou de forma aberta a decisão do Grêmio. Portanto, o programa, que tinha como pauta projetar o ano da Dupla, ganhou uma boa dose da pimenta da notícia de última hora. Afinal, seria a primeira manifestação de Romildo sobre as declarações do argentino para o qual confia a sua quarta-zaga.
O presidente gremista tomou conhecimento quase que de imediato da entrevista. Recebeu um post de uma rede social e, em seguida, o áudio. O que talvez explique o cenho franzido com que despontou no portão da casa do Pedro. Aliás, Medeiros e Romildo chegaram juntos. O presidente do Inter de bermuda jeans, tênis modelo All Star branco e camisa polo vermelha. O comandante do Grêmio também vestia polo, azul claro, mocassim e calça jeans. O estilo despojado, porém, contrastava com a fisionomia séria e um sorriso discreto ao cumprimentar quem já estava na casa.
Não demorou para Romildo se afastar e, ao celular, manter algumas conversas. Em determinado momento, refugiou-se em um canto do quintal e, enquanto fala, dava pequenos chutes em uma bola contra a parede. Parece que, ali, alinhou o posicionamento que seria tomado pela direção em relação ao tema. Logo, voltou para a varanda e juntou-se aos demais convidados, entre eles, Cláudio Oderich, um dos seus homens de estrita confiança no Conselho de Administração.
Medeiros chegou acompanhado do vice de futebol, Alessandro Barcelos. Parecia mais tranquilo e achava graça da situação. Afinal, nos últimos tempos, a tensão vestiu mais vermelho do que azul. A prova disso foi que o programa, como não poderia ser diferente, tratou nos primeiros 20 minutos da questão Kannemann, da qual Romildo não fugiu nenhum centímetro e, de forma cuidadosa, tratou de não avançar nela também. Fora do ar, o presidente mostrou naturalidade com a polêmica. Já está acostumado com a postura frontal e sincera de Kannemann. Não foi nem uma ou duas vezes que o argentino pediu-lhe audiência a portas fechadas e disse-lhe o que coração sentia.
— Depois, ele saía e ia para o campo fazer o que vemos. O "Kennemann" é o mesmo fora e dentro de campo — resumiu Romildo.
O semblante mais fechado já estava desfeito ao final da primeira parte do programa, quando a pauta avançou e deixou para trás o episódio Kannemann. Tanto que o presidente teve a tirada da tarde quando o repórter Bruno Halpern da RBS TV perguntou-lhe sobre como seria o centroavante trazido pelo Grêmio.
— Espera aí que vou perguntar ao Espírito Santo e te digo. Ou a um caboclo. Quem sabe eles me contem — brincou, provocando risos gerais.
A partir disso, o Sala tratou de temas como a questão da violência das torcidas, os possíveis Gre-Nais da Libertadores e no que impactaria na vida da Dupla jogar dois clássicos desse tamanho. Conhecidos dos tempos de segundo grau no Colégio Anchieta e contemporâneos na faculdade de Direito, os dois presidentes aproximam as relações entre os dois clubes e distensionam de forma sadia uma rivalidade que vive sempre em uma fronteira perigosa com a beligerância.
Acabado o programa, a tarde praiana do Sala teve um tempo extra. Quem ainda não havia destrinchado os galetos servidos pela equipe do Julinho Cavichioni, sentou-se à mesa. Os demais seguiram numa conversa afiada sobre o futuro da Dupla com os dirigentes. Com lugar para a descontração. Como quando o presidente Romildo olhou para o Rafael Malenotti e tascou:
— É o Bam-Bam, dos Flinstones!
O Malenotti, gente fina que é, soltou a sua sonora gargalhada e respondeu com um afetuoso abraço.