Foi o que restou. Neste domingo, Grêmio e Inter pisarão no gramado da Arena para disputar a nossa Copa. Posso até estar sendo pessimista, mas vou me arriscar aqui a aconselhá-lo: desfrute, saboreie e valorize este Gre-Nal. E também os próximos. Porque em um futuro próximo não vejo um panorama favorável para que comemoremos mais do que a vitória sobre o rival, além de vaga na Libertadores.
Não chegarei ao extremo de parafrasear aqui o lendário técnico Paulo de Souza Lobo, o Galego, que lá na virada dos anos 1970 sugeriu à Dupla se contentar com o Gauchão, já que ganhar algo além do Mampituba era devaneio. A história logo desmentiu Galego. O Inter ganhou o Brasil três vezes naquela década, e o Grêmio veio em seguida, levando também a América e o Mundo. Ou seja, deixaram de ser regionais para virar referência no Brasil.
Por esse contexto, pela régua que elevaram para si mesmos, Grêmio e Inter precisam – e devem – olhar para cima. O problema é que esta parte de cima está descolando demais da ponta sul aqui do Brasil. Nunca tivemos, é verdade, os caixas mais recheados. Muito menos os melhores contratos de patrocínio. Como diz um amigo meu, é em São Paulo e no Rio que chove grosso. Sempre foi. Só que em um cenário de profissionalização extrema do futebol, em que uma gestão responsável é o básico para sobreviver, essa diferença econômica criou um abismo.
O Flamengo e o Palmeiras, por exemplo. O primeiro gastou R$ 180,9 milhões em contratações. O segundo, um pouco menos, R$ 140 milhões. Não entram nesta conta dos cariocas as vindas de Rafinha e Filipe Luís, trazidos sem custos, e Gabigol, buscado por empréstimo. No Palmeiras, Carlos Eduardo veio do Egito por R$ 23,9 milhões – e foi pouco usado. Só em lateral-direito, a dor de cabeça atual do Grêmio e, até Heitor, também a do Inter, o clube paulista gastou R$ 22 milhões com Marcos Rocha e Mayke.
Erro zero
O Flamengo gastou em jogadores mais da metade do orçamento anual de Inter (R$ 359 milhões) e Grêmio (R$ 320 milhões). O Palmeiras, um pouco menos da metade. Investiram mais porque em seu campo chove mais grosso, como diz aquele meu amigo. Só com a vendas de pacotes de pay-per-view, os cariocas receberão em 2019, conforme estimativa, R$ 120 milhões. Os paulistas, R$ 80 milhões.
Sabe quanto a Dupla embolsará? O Grêmio, R$ 46 milhões, o Inter, R$ 30,5 milhões. Essa é a distância relacionada ao PPV. Há ainda a TV aberta e fechada, em que os contratos preveem variação conforme exposição na TV e os critérios técnicos. Cria-se um ciclo virtuoso para eles. Quanto mais ganham, mais jogos são transmitidos, mais elevam seu poder para fechar novos patrocínios e, claro, mais perto ficam da gorda fatia do campeão e do vice.
A temporada de Grêmio e Inter está muito longe de ser um fracasso. Pelo contrário. O Grêmio caiu na semifinal da Copa do Brasil e da Libertadores. Apesar do rasgo provocado pelo 5 a 0 para o Flamengo, deve-se enaltecer o lugar entre os quatro melhores da América do Sul. O Inter também fez campanha na Libertadores.
Depois de quatro anos, acabou como segundo na fase de grupos e só caiu nas quartas. Na Copa do Brasil, acabou como vice. Houve a dor de perder a final em casa, para um clube de menor musculatura. Mas, entre 80 times, foi o segundo.
O problema da Dupla é dar o passo adiante, o que permite colocar a mão na taça. Esse, meu caro, só vem com a qualidade superior, com aquele jogador decisivo, forjado nas conquistas e ainda em sua plenitude. É nesse ponto que a diferença financeira aparece. Como ela nos é desfavorável, nos resta trabalhar mais do que os outros.
Para encontrar novos meios de criar receitas, para garimpar mais a fundo os jogadores, para formar os melhores na base e, principalmente, para alcançar o erro zero. Será o único jeito de criar uma ponte que ligue o sul do mundo ao eixo endinheirado do Brasil, onde chove grosso. Enquanto isso não acontece, desfrutemos da nossa Copa. Ela vale muito. Bem mais do que três pontos e um lugar no G-4.