O atacante Raphinha, 22 anos, saiu da Restinga para brilhar na Europa. Hoje, é uma das jovens apostas do Sporting Lisboa, tem como agente o ex-craque Deco e contrato de patrocínio com a Adidas. O guri escanteado por Grêmio e Inter na adolescência, por ser franzino e baixinho, virou cidadão do mundo e jogador com multa rescisória de 60 milhões de euros (R$ 256 milhões). Tudo isso sem nunca ter deixado de ser da Restinga.
Nas últimas férias, Raphinha voltou ao bairro para apoiar os projetos sociais conduzidos pelos tios Eduardo e Emerson. Usou de seu sucesso em Portugal para fazer com que a Adidas se engajasse e doasse material esportivo.
Também foi visitar o "Tio" Farias, seu primeiro técnico no Monte Castelo, time de várzea da Tinga e por onde passaram quase todos os guris do bairro. Foi lá que Raphinha começou trajetória abastecida pela persistência, usada por ele hoje para inspirar a gurizada da Restinga.
Raphinha esteve por desistir algumas vezes, confessa. Também pudera, não foram poucos os obstáculos. No Inter, jogava nas escolinhas e, quando foi testado para integrar o grupo principal, acabou reprovado por causa da altura. No Grêmio, treinou por um ano em projeto piloto sem que a sorte o bafejasse.
Foi indicado ao Porto Alegre, clube da família Assis Moreira. Passou o primeiro ano só treinando. No segundo, o clube fechou a base. A partir daí, rodou pela várzea: Sport Sul, da Zona Sul, Academia do Morro, da Vila Maria da Conceição, e E.C 2014, de Viamão.
Foi nesse último que se iniciou sua guinada. Um agente, João Paulo Tardim, o viu jogar, procurou o dono do time e disse que tinha oferta do Audax, de São Paulo. Raphinha desconfiou. Mesmo assim, embarcou na aventura.
Passou um ano no clube, administrado pelo Grupo Pão de Açúcar, do empresário Abílio Diniz. Só que, ao final da temporada, Diniz vendeu o Audax, e o guri voltou para casa. Tardim apresentou-lhe outra aventura: o Imbituba, para a segunda divisão sub-20 do Catarinense. Raphinha topou. Mal imaginava que a sorte estava ali. Foi bem e acabou no Avaí.
O começo em Florianópolis foi complicado. Mas na segunda temporada, já treinava entre os profissionais, promovido por Gilson Kleina. Chegou a ficar no banco em um jogo do Brasileirão de 2015. No final daquele ano, disputou o Brasileirão Sub-20 em Porto Alegre e, em seguida, a Copa SP. Foi quando Deco o viu e passou a agenciá-lo. Em fevereiro, Raphinha estava na Itália, tirando o passaporte, quando o telefone tocou: era Deco, avisando-o da venda ao Vitória de Guimarães. Foi direto para Portugal. Primeiro no time B. Após quatro meses, estava no grupo principal.
A afirmação, no entanto, só veio na temporada 2017/2018. Fez 18 gols em 43 jogos. Pouco antes da Copa da Rússia, o telefone tocou de novo. Era Jorge Jesus, hoje técnico do Flamengo, avisando-o de que tinha um projeto para ele no Sporting. Raphinha chegou com contrato de quatro anos e multa de R$ 256 milhões.
No primeiro ano, foram oito gols e dois títulos, a Copa da Liga e a Taça de Portugal. Nesta temporada, disputará a Liga Europa e o título nacional. A pré-temporada para alcançar essas metas acontece na Suíça, com vista para o Lago Zurique e as montanhas. Mais um prêmio à perseverança de Raphinha, o guri da Restinga.