O "clássico rosarino" é um patrimônio de Rosario, uma das principais cidades da Argentina. Está para a cidade como o Gre-Nal para nós. Só que lá o vândalos venceram. Ao ponto de que, na última quinta-feira, Rosario Central e Newell's se enfrentaram por vaga na semifinal da Copa Argentina sem torcida e a 300 quilômetros de distância. Era para ser o clássico do século. Não foi.
Por medo da violência e de uma guerra entre as torcidas, o governo local não deu garantias de segurança. Pensou-se em levar para Santa Fé. O governo de lá agradeceu a honraria e também declinou. A saída dos organizadores da Copa Argentina foi levá-lo para região metropolitana de Buenos Aires. O clássico acabou sendo disputado em Sarandi, no estádio do Arsenal. Às 15h30min de um dia útil, para evitar até mesmo que os torcedores deixassem Rosário para se encontrar nos arredores. O Rosario, de Edgardo Bauza, venceu por 2 a 1 e enfrentará o Temperley, na semifinal. Fez história no campo, mas ajudou a escrever um cinzento capítulo do clássico de 113 anos.
Os desdobramentos do jogo tiveram como personagem o ex-gremista German Herrera. Formado no Rosario Central, ele voltou ao clube em 2015. Com a lesão de Marco Rúben, começou na quinta-feira como titular. Foi dele o primeiro gol, de calcanhar, na vitória de 2 a 1. Herrera tem estrela nos "clássicos rosarinos". Foi seu terceiro gol desde que retornou à cidade. O que enfurece os torcedores do Newell's.
Ao voltar para casa, o atacante encontrou a parede da casa vizinha com um recado e uma seta apontando para seu prédio: "Herrera, vas a morir". A pichação havia sido feita na véspera da partida. Por telefone, perguntei ao jornalista rosarino Gastón Fernández sobre a gravidade do ato. A resposta dele mostra o grau de violência que o futebol local atingiu: "Aprendemos a conviver com isso".