O estilo é italiano. No cuidado extremo com a aparência e também no estilo de futebol. Alberto Valentim, 43 anos, começa a mostrar no Botafogo que os nove anos como jogador da Udinese e do Siena e os três anos de estudos e estágios no país europeu se refletem também no campo. O título carioca, dois meses depois de assumir no lugar de Felipe Conceição, garantiu credibilidade para implantar suas ideias e buscar repetir o sucesso de Jair Ventura, novato que levou o clube até as quartas de final da Libertadores 2017.
Alberto, para quem não se lembra, é aquele ex-lateral-direito de começo brilhante no Atlético-PR em 1996 – sucedido por dois anos no São Paulo e rápida passagem pelo Cruzeiro como uma das contratações polêmicas para o Mundial Interclubes em 1998, ao lado de Bebeto, Donizete Pantera e Gonçalves. Ele ainda esteve no Flamengo antes de embarcar para nove anos na Itália que mudariam sua vida, com seis temporadas na Udinese e três no Siena.
Lateral-direito com porte de zagueiro e imposição física, Alberto absorveu a cultura tática dos italianos. Tornou-se um obcecado por sistemas de marcação. Fascinouse pelo modo como os italianos montavam seus times a partir de defesas sólidas. Na Itália, também, aprimorou o gosto pela moda e aguçou ainda mais sua vaidade.
– Ele sempre foi superantenado com futebol. E também vaidoso – entrega Ricardo, o irmão caçula.
Ricardo até se arrisca a dizer que o esmero com a aparência venha de casa, por influência das duas irmãs e da mãe, que criou o quarteto sozinho a partir das morte do marido, quando Alberto tinha nove anos.
O guri saiu aos 16 anos de casa, em Oliveira, cidade de 40 mil habitantes a 150 quilômetros de Belo Horizonte. Teve passagem pelo América-MG e depois rumou para o Guarani-SP. Em Campinas, fez história. Estava no time sub-20 campeão da Copa SP de 1994. A conquista veio com vitória sobre o São Paulo treinado por Muricy Ramalho e cheio de promessas: Rogério Ceni, Caio, Jamelli e Guilherme, que depois viria jogar no Grêmio. O jogo foi decidido nos pênaltis, e coube a Alberto fazer a cobrança decisiva.
– O moleque era boa pinta. Até hoje é – brinca o ex-centroavante Luizão, que desceu dos profissionais para reforçar o time.
Luizão mantém amizade até hoje com Alberto e aponta outra característica marcante dele:
– É extremamente educado. Para ter ideia, ele não me chama de Luizão, é Luiz. É um cara fantástico, merece tudo de bom, estudou muito para chegar aonde chegou.
Alberto estudou mesmo. Voltou da Itália em 2008, para o Atlético-PR. Jogou uma temporada e, em 2009, aos 34 anos, se aposentou para virar técnico. Mas estabeleceu etapas. A primeira foi dois anos e meio de estudos na Itália. Voltou ao Brasil e iniciou sua trajetória como auxiliar na Arena da Baixada. Em 2014, chegou ao Palmeiras, como auxiliar fixo do clube. Assumiu o time como interino nas saídas de Gílson Kleina, Ricardo Gareca, Dorival Júnior, Oswaldo de Oliveira e Marcelo Oliveira. Quando Cuca chegou, em 2016, a química entre os dois foi imediata.
Cuca saiu depois do título brasileiro e imaginava-se que Valentim assumiria. Só que o Palmeiras trouxe Eduardo Baptista. Foi a senha para iniciar uma carreira solo. No início de 2017, ele foi apresentado pelo RB Brasil, espécie de oásis no interior paulista bancado pelo dinheiro da Red Bull.
A experiência durou 16 jogos. Cuca voltou ao Palmeiras, em meio ao Brasileirão do ano passado, e solicitou a volta de Valentim. A temporada acabou com o auxiliar no comando na campanha do vice para o Corinthians. O roteiro de 2016 se repetiu. O Palmeiras buscou Roger, e Valentim partiu para buscar seu lugar.
– Ele precisava dar esse voo maior. É um técnico com metodologia, carismático, educado e comprometido. Tem comando por imposição e exemplo – resume o gaúcho Cícero Souza, gerente de futebol do Palmeiras.
Em fevereiro, o Botafogo buscou Cuca para o lugar de Felipe Conceição. Ele recusou e indicou Velentim. Seria o casamento perfeito, garantiu. Estava certo. No Rio, Valentim aplica todos os conceitos aprendidos na Itália como jogador, nos cursos de técnico e nos estágios que fez, como os 30 dias com Luciano Spaletti em 2017. Levou vídeos de dois jogos e de seus treinos no RB Brasil e pediu para o italiano, hoje na Inter, esquadrinhá-los. Por um mês, passou 10 horas diárias no CT da Roma.
A ida à Itália, confessou no Bem, Amigos!, do Sportv, serviu para atualizar as ideias de futebol e o guarda-roupas. A fama entre os amigos é a de um sujeito vaidoso. Os óculos usados no treino não são os mesmos dos jogos. O biotipo dos tempos de atleta é conservado com exercícios. O estilo galã entrou na mira das páginas destinadas aos famosos no Rio. O jornal Extra publicou fotos suas com a namorada, uma bela advogada mineira de 22 anos, apenas dois a mais do que seu filho, Diego. O ingresso nas colunas sociais reflete seu sucesso como técnico. E a influência italiana em sua vida.