Eu sei que a responsabilidade sobre as calçadas não é exatamente da prefeitura, mas sim dos proprietários dos terrenos à frente. No entanto, isso precisa mudar. Quais são os bairros de Porto Alegre onde se pode caminhar? Bom Fim, Menino Deus... talvez alguns outros, como Moinhos de Vento, que ainda preservam um pouco da funcionalidade urbana. Em poucas regiões ainda conseguimos resolver tarefas do dia a dia a pé ou desfrutar de um passeio curto em meio ao caos da cidade.
É triste nos darmos conta de que a lógica de nossa capital não favorece os pedestres. Vários fatores contribuem para isso: insegurança, construções que parecem fortalezas e calçadas em estado deplorável. Mas quero focar, em especial, nas calçadas. Resolver este problema parece impossível. Quando cobramos da prefeitura, ela repassa a culpa aos moradores, e assim ficamos presos nesse ciclo interminável. De fato, cabe aos donos dos imóveis manter o espaço transitável, sob risco de multas, mas já vimos que isso não funciona na prática, e a cidade sofre.
Desníveis, pedras soltas, mato alto e buracos são apenas alguns dos absurdos que encontramos nas nossas calçadas. Idosos caem, cadeirantes sofrem, e caminhar se torna uma verdadeira prova de destreza. Que vergonha não conseguirmos ter calçadas decentes em nossa cidade! Ao longo dos anos, nos habituamos a essa realidade inaceitável, mas isso não pode continuar assim. Não podemos perder nossa capacidade de indignação ao perceber que não podemos caminhar nas ruas.
As enchentes, claro, pioraram a situação, mas o problema é antigo e vem se arrastando há anos. Ações educativas, cartilhas, mutirões de autuações surgem esporadicamente, mas, no final das contas, pouco muda. A prefeitura parece ter perdido o fôlego e a criatividade para encontrar uma solução real e eficaz. Será que já perdemos essa batalha? O Ministério Público poderia intervir, de forma atuante e proativa? É fácil demais para as autoridades se apoiarem na alegação de que "a responsabilidade é do proprietário". É hora de pensarmos em investimentos públicos sólidos e de longo alcance nesse setor. Afinal, uma cidade onde não se pode caminhar é incompleta, insegura e cada vez mais triste.