Os presidiários de Porto Alegre ajudaram na produção de pequenas embarcações na grande enchente de 1941. A Casa de Correção ficava ao lado da Usina do Gasômetro, às margens do Guaíba. Mesmo com a inundação no entorno, a cadeia foi importante para auxílio aos flagelados.
Na edição de 11 de junho de 1941, o jornal carioca Diário da Noite publicou a manchete "A Casa de Correção transformou-se em fábrica de canoas". Porto Alegre estava no momento mais crítico da enchente. O pico do Guaíba, 4m76cm no Cais Mauá, foi atingido dois dias antes. A cidade estava com alagamentos no Centro Histórico e nos bairros Menino Deus, Cidade Baixa, além de grande parte da Zona Norte. De acordo com a notícia, "a construção de pequenas embarcações nunca atingiu tão grande desenvolvimento". A Casa de Correção virou a "maior fábrica de canoas de Porto Alegre".
A cozinha da cadeia também foi usada para fornecimento de refeições para os flagelados. A cidade chegou a ter mais de 17 mil pessoas acomodadas em 84 abrigos.
Outra curiosidade sobre a prisão da cidade foi a entrada de muitos comerciantes durante a enchente. Mais de cem donos de lojas foram presos por venderem produtos acima da tabela de preços imposta pelo governo do Estado.
Enchente de 1941
A chuva no Estado começou em 10 de abril, uma Quinta-Feira Santa. Por 35 dias, o Estado foi castigado pelos temporais. Em Porto Alegre, choveu em 22 dias neste período, acumulando 619,4 milímetros.
Depois do caos no interior, os rios Jacuí, Caí, Sinos e Gravataí encheram o Guaíba. Com 272 mil habitantes, Porto Alegre ficou com suas principais áreas comerciais e industriais embaixo d´água no início de maio, quando o vento Sul represou o Guaíba.
Baseados na experiência de outra grande enchente, de 1928, muitos porto-alegrenses demoraram para se convencer da gravidade. Em 8 de maio de 1941, o nível do Guaíba atingiu a marca de 4,76 metros no Cais Mauá, onde a cota de inundação é de três metros.
As consequências da enchente de 1941 foram sentidas por muito tempo. Em 1967, outra cheia do Guaíba deixaria partes da cidade embaixo d´água. Depois dos traumáticos episódios, Porto Alegre construiu o muro da Avenida Mauá e um sistema de diques.
Na enchente de maio de 2024, a marca de 4m76cm foi superada no início da noite da última sexta-feira (3). No madrugada de domingo (5), foi registrada a maior marca da história do Guaíba no Cais Mauá: 5m35cm.