No alto do Edifício União, a Rádio Gaúcha levou ao ar grandes sucessos de audiência. Os estúdios e o famoso auditório foram inaugurados no final de 1950, no novíssimo prédio do centro de Porto Alegre. Confortavelmente sentados, os ouvintes podiam ver de perto os ídolos da radionovela e do radioteatro, além de acompanhar os programas de humor e música.
Antes do surgimento da TV, os programas de auditório e as novelas foram febre no rádio. A Rádio Gaúcha preparou grande programação para apresentar as novas instalações no 11º do Edifício União, na esquina da Avenida Borges de Medeiros com a Rua Sete de Setembro, em frente ao Paço Municipal. A inauguração ocorreu em 7 de novembro de 1950, uma terça-feira. O Jornal do Dia noticiou que a Rádio Sociedade Gaúcha (PRC-2) convidou autoridades, representantes do meio artístico e ouvintes para a cerimônia, às 17h30. Naquela noite, "com o novo e modelar auditório repleto, teve início uma movimentada programação, da qual tomaram parte elementos destacados do broadcasting brasileiro".
A Revista do Globo publicou que o novo auditório no Edifício União, "apesar de suas amplas dimensões, tornou-se pequeno para conter o numeroso público especialmente convidado a assistir aos programas". Em uma propaganda publicada meses antes, a emissora apresentou imagens do projeto dos novos estúdios na área de 660 metros quadrados, prevendo 237 cadeiras no auditório.
No encerramento da semana de festividades de inauguração, a Rádio Gaúcha atraiu multidão ao Auditório Araújo Vianna, que ficava onde está atualmente a Assembleia Legislativa. No palco, estiveram nomes como Marlene, então Rainha do Rádio no Brasil, e Emilinha Borba, que também receberia a coroa três anos depois.
No Edifício União, nos anos seguintes, subiram ao palco os principais nomes da música brasileira e atrações internacionais. Em 1951, o programa Variedades em Revista lotava o auditório nos domingos de manhã, comandado pelo comunicador Adroaldo Guerra, que recebia músicos locais e convidados de São Paulo e Rio de Janeiro. Outra atração era o Sudan Show, patrocinado pela fábrica de cigarros Sudan, distribuindo prêmios em dinheiro, além de apresentações musicais e radioteatro humorístico.
O jornalista Adroaldo Guerra Filho, o Guerrinha, acompanhou o pai, famoso apresentador de programas de auditório e radioator. Na infância, no início da década de 1960, Guerrinha recorda da atuação de Adroaldo Guerra nas radionovelas, apresentadas ao vivo no auditório do Edifício União.
— O público torcia para o final feliz do mocinho. Em função do vozeirão, meu pai normalmente era o vilão — relembra Guerrinha.
Em 1959, quando foi contratado, o jornalista Lauro Quadros abria a Rádio Gaúcha, às 6h. A emissora ficava fora do ar na madrugada. Ele recorda que o 11º andar do Edifício União também tinha um estúdio para locução e outro para radioteatro. Como substituto, chegou a apresentar o programa Céu e Campo, de música tradicionalista, no icônico auditório.
— Os atores de radioteatro e radionovela faziam tudo ao vivo, com a sonoplastia ao lado. Em uma outra sala, realizavam os ensaios antes de cada capítulo — conta Lauro Quadros.
O jornalista Cláudio Brito lembra de ficar na fila, no lado de fora do Edifício União, esperando a vez de subir o elevador para assistir aos programas no auditório. Mais tarde, na juventude, chegou a fazer ponta em radionovela. Brito lembra que o Cine Castelo, no bairro Azenha, recebia programas de maior público, como o show comandado por Maurício Sirotsky Sobrinho.
— Nos anos dourados, Edifício União. As comédias e novelas, a maior inspiração — canta Brito durante a entrevista, lembrando de parte do samba feito para o desfile da escola de samba criada pela Rádio Gaúcha para comemorar os 70 anos, em 1997.
Os estúdios e o auditório no centro de Porto Alegre foram fechados da década de 1960. A Rádio Gaúcha transferiu a estrutura para o Morro Santa Tereza, onde estava em atividades desde o final de 1962 a TV Gaúcha, atual RBS TV.