Os porto-alegrenses acordaram com a notícia de um acordo de paz em 14 de dezembro de 1923. Sem rádio, televisão ou sites de notícias, os jornais foram responsáveis por propagar a informação sobre o fim do conflito entre os grupos liderados pelo presidente do Rio Grande do Sul, Antônio Augusto Borges de Medeiros, e por Joaquim Francisco de Assis Brasil, principal nome da oposição. A ata de pacificação foi assinada no início da madrugada em Pedras Altas, no Sul do Estado.
O jornal republicano A Federação acionou a estridente sirene na sede em Porto Alegre no início da manhã. Logo, moradores do entorno começaram a chegar para ler a notícia em quadro colocado em frente ao prédio, na esquina das ruas dos Andradas e Paysandu (atual Caldas Júnior). O vespertino A Federação, que ficava em frente à redação do Correio do Povo, reproduzia a opinião do grupo que estava no poder, ou seja, de Borges de Medeiros. No jornal impresso naquela tarde, a esperada manchete: "A Paz. Os sediciosos acceitaram as condições de paz. A 0 (zero) hora de hoje foi assignada a acta de pacificação do Rio Grande".
A assinatura do acordo ocorreu na Granja de Pedras Altas, no castelo de Assis Brasil. O líder opositor assinou a ata junto com o ministro dos Negócios da Guerra, general Fernando Setembrino de Carvalho, enviado como emissário do presidente brasileiro Artur Bernardes para pacificação. No dia seguinte, 15 de dezembro, em celebrado ato no Palácio Piratini, os termos foram referendados por Borges de Medeiros.
A ata de pacificação teve dez pontos. O mais importante reformava artigo da constituição estadual para proibir a reeleição do presidente (governador) para o período presidencial imediato, valendo o mesmo para intendentes (prefeitos). Também ficava acertada a imediata aprovação de anistia aos envolvidos nos movimentos políticos. Quando se comprometeu a não tentar uma nova reeleição, Borges de Medeiros garantiu a conclusão do quinto mandato, ficando no cargo de presidente do Estado até o início de 1928.
O acordo de Pedras Altas pôs fim aos onze mês de conflitos. De um lado, estavam os chimangos, republicanos aliados de Borges de Medeiros e a força da Brigada Militar. A oposição reuniu desde os maragatos até dissidentes republicanos.
Em temporada do podcast Aconteceu no RS, conversei com quatro pesquisadores, que nos ajudam a entender causas e consequências da Revolução de 1923. Os números são incertos, mas a estimativa é de aproximadamente mil mortos. As peleias ficaram restritas ao interior do Estado, em combates rápidos.
Os conflitos de 100 anos atrás podem ser considerados consequência das questões mal resolvidas na Revolução Federalista, de 1893 e 1895. Em trinta anos, foram se somando outros motivos, principalmente a insatisfação com a forma de domínio do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), acusado pelos opositores de fraudes nas eleições. A revolta começou em 25 de janeiro de 1923, dia da posse de Borges de Medeiros. Os opositores queriam provocar uma intervenção do governo federal no Estado.
Passando por reforma, depois de um século do histórico pacto de paz, o castelo do município de Pedras Altas está aberto a visitas, que precisam ser agendadas pelo Instagram (@castelopedrasaltas).