As obras de restauração do suntuoso castelo de Pedras Altas, no sul do Rio Grande do Sul, começam na próxima semana. O prédio de 44 cômodos, 12 quartos e cinco banheiros concentra antigos móveis, 21 mil livros, fotografias, diários e cartas que retratam a vida de poderosos da Primeira República, época do início do século 20.
As obras começam após ser realizada uma cerimônia simbólica no sábado de 26 de agosto – é esperada a presença de integrantes do governo do Estado. O castelo inspirado na arquitetura portuguesa foi construído por Joaquim Francisco de Assis Brasil, político gaúcho, diplomata e agricultor de influência nacional.
Os trabalhos no prédio devem durar até dois anos e, dos objetos históricos, até cinco anos. A primeira etapa das reformas começará com o restauro do telhado e do andar superior do castelo. Na sequência, obras de restauro na parte estrutural.
As intervenções são custeadas mediante Lei Estadual de Incentivo à Cultura, na qual empresas recebem dedução nos impostos pagos ao governo do Estado. O valor projetado para os trabalhos é de R$ 1,97 milhão, e a Associação Castelo de Pedras Altas arrecadou, até agora, R$ 1,1 milhão. Já participaram Unimed, Beltrame Materiais de Construção, Rede Super, Plasbil, Podal Distribuidora e DSL Postos Santa Lúcia. A Fundação Toyota do Brasil entrou com patrocínio direto.
Desde outubro do ano passado, o castelo recebe o público com visitas guiadas ao custo de R$ 100 por pessoa. Até o fim de outubro, um café deverá funcionar em um dos ambientes do castelo: uma estrutura externa que, antigamente, servia para armazenagem de grãos e feno, anuncia o advogado Luiz Carlos Segat, presidente da Associação Castelo de Pedras Altas.
— A ideia é ter café, cuca, salame, queijo, doces e produtos da região. Temos também a ideia de fazer cabanas para o pessoal se hospedar e um centro de eventos. Dentro do castelo, estará o museu para contar toda a história da granja — afirma Segat.
GZH foi a Pedras Altas em agosto de 2022 para conversar com os novos proprietários e explicar o valor histórico do castelo. À época, a secretária de Cultura do Rio Grande do Sul, Bia Araújo, afirmou à reportagem que o local “é um ativo muito importante para a região, mas chegou a um estado de deterioração muito grave”.
Serviço
- Visita ao castelo de Pedras Altas
- Valor: R$ 100
- Quando? Qualquer dia da semana, mediante agendamento
- Contato: Instagram @castelopedrasaltas ou pelos telefones (55) 99631-9490/ (55) 99163-4555
Quem foi Joaquim Francisco de Assis Brasil (1857-1938)
Advogado, político e pecuarista, Assis Brasil nasceu em São Gabriel e articulou a Revolução de 1923 no Rio Grande do Sul. Foi deputado na legislatura que criou a nova Constituição brasileira e ajudou a redigir a Constituição gaúcha. Diplomata em Buenos Aires, Lisboa e Washington D.C, Assis Brasil ajudou o Barão de Rio Branco a negociar a compra do Acre pelo governo brasileiro. É considerado o pai do Direito Eleitoral e da Expointer. Casou duas vezes e teve 12 filhos. Morreu no castelo de Pedras Altas.
O que foi a Revolução de 1923
Retratado no livro O Arquipélago, de Erico Verissimo, o movimento armado buscava depor o governador do Rio Grande do Sul Borges de Medeiros, que tinha 25 anos de cargo e reduzira incentivos ao setor agropecuário. O conflito durou menos de um ano e opôs partidários de Borges (chimangos) a apoiadores de Assis Brasil (maragatos), que tentara se eleger como governador, mas perdera em eleições fraudadas. Mais de 1 mil pessoas morreram em batalhas em cidades como Passo Fundo e Palmeira das Missões. O fim se deu com o Tratado de Paz de Pedras Altas, assinado em uma das salas de estar do castelo de Assis Brasil. Borges se comprometeu a sair do poder após o fim do mandato.
— A revolução de 1923 foi uma das grandes revoltas do período da Primeira República. Borges tinha uma política econômica de desenvolvimento global, de não privilegiar nenhum setor, então não protegia mais o setor pecuarista, gravemente afetado pela crise econômica do pós-primeira guerra. Borges precisava de dinheiro para colocar em prática o projeto de dragagem do porto de Rio Grande e cobrou dívidas do setor pecuarista. Já Assis Brasil era ligado a uma elite da pecuária que perdeu benefícios. Há um discurso que enaltece virtudes meio heroicas do Assis Brasil, mas ele era um homem do seu tempo, inserido em uma classe social, com interesses econômicos e políticos afetados — analisa Fábio Kuhn, professor de História na UFRGS.