O trem Minuano chegou na década de 1950 para substituir a Maria Fumaça. Em parte das rotas, é claro. Desde a abertura das ferrovias no Rio Grande do Sul, na segunda metade do século 19, a fumaça preta da queima de carvão acompanhava os trens. O Minuano foi o primeiro trem na ferrovia gaúcha com motores movidos a óleo diesel.
Em concorrida cerimônia, a inauguração do Minuano 1 ocorreu em 2 de maio de 1954, na estação Diretor Pestana, em Porto Alegre. O veículo recebeu a benção do Arcebispo Metropolitano, Dom Vicente Scherer. Os convidados fizeram viagens de ida e volta entre a capital gaúcha e Canoas.
Comprados pela Viação Férrea do Rio Grande do Sul (VFRGS), dez trens diesel-hidráulicos já estavam em Porto Alegre em 1955. De acordo com reportagem do jornal Diário de Notícias, eles foram fornecidos pela empresa Indústrias Reunidas Ferro e Aço (IRFA), do Rio de Janeiro, fabricados pela indústria alemã MAN (Maschinenfabrik Augsburg-Nürnberg AG). O revestimento exterior era inteiramente em aço, com isolamento térmico nas paredes laterais e teto. Nos dias frios, os passageiros passaram a ter o conforto do aquecimento.
Cada trem era composto de três partes, com 120 lugares no total. O bar com cozinha ficava no vagão central. As poltronas eram em couro. Em testes entre a Porto Alegre e Canoas, a velocidade máxima chegou a 100 km/h. O jornalista Irineu Guarnier Filho, que pesquisa a história de veículos antigos, recorda da viagem que fez na infância, acompanhado da mãe, entre Cruz Alta e a capital gaúcha:
— A imagem do mais moderno trem gaúcho da época chegando à plataforma no meio da noite nunca esqueci. A pintura era vermelho e creme. O design, aerodinâmico, lembrava o de um avião. E havia um enorme farol, acima da cabine do condutor, que iluminava toda a estação. O interior era luxuoso para os padrões da época, com poltronas individuais, janelas amplas e quase nenhum ruído — descreve.
Com o modelo a diesel, a Viação Férrea queria reduzir gastos da operação. O Minuano era mais econômico na comparação com os trens a vapor, que deixavam resultados deficitários para a empresa. Mais tarde, o Minuano ganharia a companhia do Pampeiro, trem de luxo construído nas oficinas da VFRGS em Santa Maria.
O Minuano foi usado em várias linhas ferroviárias. A viagem de Porto Alegre a Santa Maria, por exemplo, durava 10 horas. Ele começou a ser substituído gradualmente com a chegada do trem Húngaro, em 1974, mais moderno e muito mais rápido. O último Minuano deixou de circular em 1981, quando fazia a linha Porto Alegre - General Câmara, de acordo com livro da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), publicado na década de 1980.
Nenhum Minuano sobrou para contar a história em um museu. Todos viraram sucata.
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