Lendas urbanas não precisam das redes sociais para chegarem em todos cantos. Nossa história está cheia de lendas muito antigas. No início da década de 1990, eu ficava bem assustado com uma que contavam na minha escola em Novo Hamburgo. A lenda do Diabo Loiro surgiu quando a lambada estourou em todo Brasil. Colegas diziam que um homem loiro, bem vestido, aparecia nos bailões no Vale do Sinos, principalmente no bairro Scharlau, em São Leopoldo. Eu nem tinha idade para ir aos bailes, mas ficava com medo.
Como é comum nas lendas urbanas, cada um conta do seu jeito, criando novas versão. Eu ouvia que o Diabo Loiro queria assustar as mulheres, com ameaças escritas com batom nos espelhos dos banheiros dos bailões. Sempre acreditei que fosse uma lenda restrita ao Vale do Sinos, até o dia que contei na Rádio Gaúcha. Chegaram mensagens de ouvintes de várias cidades falando do Diabo Loiro. Voltamos ao tema no programa Gaúcha Mais nesta semana, quando a Giane Guerra falou sobre investimento de nova casa de shows num tradicional ponto de bailões em São Leopoldo. Eu lembrei da lenda e ela também tinha uma versão, de Gravataí, onde morava no início dos anos 1990. Lá, o Diabo Loiro se vestia de branco, do chapéu aos sapatos, aparecendo à noite na rodoviária para dançar lambada e enfeitiçar as mulheres. Ouvintes mandaram mensagens de várias regiões do Rio Grande do Sul com outras versões, a maioria envolvendo as aparições do homem nos bailes.
Um ponto importante para entender a lenda é o contexto da época. Em todo Brasil, a lambada virou sucesso no final da década de 1980. A dança envolvente de homens e mulheres, com corpos grudados e pernas enroscadas, virou febre nos bailes. As pessoas mais conservadoras não gostavam. Diziam que era coisa do diabo. É aí que pode estar a origem da lenda, já que o Diabo Loiro servia para assustar as mulheres que frequentavam estas festas. Em algumas cidades gaúchas e de outros estados, a mesma lenda surgiu na época, mas chamavam de Diabo da Lambada, numa referência direta ao gênero musical.
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