Convidado do programa Timeline, da Rádio Gaúcha, nesta quinta-feira (7) o ator, roteirista, apresentador, humorista (e tantas outras credenciais) Gregório Duvivier, foi questionado sobre os episódios recentes que envolvem a obra O Avesso da Pele, do escritor Jeferson Tenório. É que, na última sexta-feira (1º), a diretora de uma escola de Santa Cruz do Sul publicou um vídeo nas redes sociais pedindo que exemplares da obra fossem retirados da instituição e não fossem usados por professores dentro da sala de aula. Na postagem, Janaina Venzon, diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Ernesto Alves de Oliveira, citou vocabulários de "tão baixo nível" para serem trabalhados com estudantes do ensino médio. A publicação foi apagada.
Gregório confessou não estar ciente sobre a publicação da diretora, mas, informado pelo programa, classificou o episódio como "pânico moral", algo que ele atribui a "fanáticos". Ele disse considerar importantíssimo proteger a infância, mas ressaltou que o caminho não deve ser feito a partir da proibição de livros.
— A questão da sexualidade nem é o ponto central do livro. Qualquer criança certamente 'ganha' coisas muito mais graves na internet, tik tok, nesses lugares. Li o livro faz pouco tempo e não lembro mesmo de ter qualquer coisa de inapropriado com sexualidade. (Me parece) que hoje há uma espécie de pânico moral. E pânico moral é a grande arma dos fanáticos. Porque isso apavora as pessoas. Eles alegam "estão querendo sexualizar as crianças, logo, isso é pedofilia". E o pior é essas pessoas não estão interessadas, de verdade, em proteger a infância. Porque, sim, a infância está sob ataque no Brasil, mas o ataque é: a fome, a miséria, a prostituição infantil. Contra tudo isso, é fundamental a gente proteger e criar políticas públicas que tornem as infâncias mais seguras. Mas certamente não é por causa do livro O Avesso da Pele que as infâncias estão ameaçadas no Brasil. Eu sou a favor de políticas de proteção à infância. E proteger a infância não passa pela proibição de livros. Pelo amor de Deus. É muito pelo contrário. Passa pla distribuição de livros, passa pela alfabetização, pela cultura do livro. É isso que vai proteger as crianças.
No Rio Grande do Sul, apesar do apoio da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) reverteu a decisão da remoção dos livros.
Já no Estado do Paraná, o governo determinou o recolhimento da obra nas escolas estaduais, alegando a necessidade de análise devido a expressões, jargões e descrições de cenas consideradas inadequadas para menores de dezoito anos.
Repercussão
Após a repercussão do caso, cerca de 250 artistas e intelectuais assinaram uma petição em apoio a Jeferson Tenório. Nomes como Ailton Krenak, Antônio Fagundes, Drauzio Varela, Djamila Ribeiro, Mia Couto e Ziraldo subscrevem o texto intitulado "Contra a Censura à Literatura de Jeferson Tenório".
"Ferem de morte a democracia, o direito de um autor se expressar, tiram a oportunidade de alunos entrarem em contato com textos escritos que foram observados e selecionados por comissões especializadas e preparadas para levar qualidade ao ensino", diz o texto, publicado em forma de abaixo-assinado em um site.