Restando apenas quatro dias para o segundo turno das eleições, há um aspecto que desperta atenção das campanhas de ambos os candidatos à Presidência da República. Não se trata da economia, nem mesmo da repercussão política nas redes sociais. Mas, sim, da abstenção. Ou seja, quantos eleitores deixarão de ir às urnas para votar no próximo domingo (30). O dado pode impactar as candidaturas de Lula e de Bolsonaro.
Primeiro, é preciso lembrar: os índices de abstenção têm sido altos e não é de hoje. Conforme as últimas disputas, se estabelecem em torno de 20%. Neste ano, no primeiro turno, ficou em 20,95%, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral. Há quatro anos, havia sido 20,3%.
Veja o histórico referente ao segundo turno:
- 2018 – 21,29%
- 2014 – 21,1%
- 2010 – 21,47%
- 2006 – 18,99%
- 2002 – 20,46%
- 1998 – Não houve segundo turno
- 1994 – Não houve segundo turno
O percentual maior, como se pode ver, foi em 2010 (21,47%) e há uma semelhança com 2022. Naquela ocasião, o domingo do segundo turno ficou próximo ao feriado de Finados, tal como agora. É verdade que a data (2/11) neste ano cairá numa quarta-feira, mas ainda assim é um ponto de atenção, porque a tendência é fazer com que a abstenção seja maior.
E considere-se também que, historicamente, o segundo turno tem maior abstenção do que o primeiro.
E por que, afinal, os olhares estão atentos a este índice? Porque numa eleição apertada como esta em que estamos, a tendência é que o resultado seja decidido no detalhe. Ou seja, a diferença entre os candidatos deverá ser pequena. Aí vale a máxima de que cada voto conta (e muito).
Não à toa, o debate sobre a adoção do passe livre (que, em tese, cria um empecilho a menos para que o eleitor de baixa renda vá votar) ganhou o país.
E como prever?
Aliás, há um dificuldade imensa das campanhas para captar qual será o tamanho da abstenção (ou se aproximar do percentual) antes de a eleição ocorrer. Daí o ponto de atenção dos candidatos. Tentar calcular o impacto disso é praticamente impossível, mas aliados sabem que pode haver prejuízo político significativo.
Os institutos de pesquisa também padecem do mesmo problema. Neste ano, a Quaest está utilizando um modelo chamado de "likely voter model", que, nas palavras do diretor Felipe Nunes, busca "minimizar os efeitos que a abstenção não-aleatória entre os subgrupos do eleitorado".
"Muito mais gente diz que vai votar do que realmente vota, então não é suficiente perguntar às pessoas se elas vão votar e subtraí-las da amostra para se obter estimativas precisas para o subconjunto de entrevistados que são mais representativos do provável eleitorado válido", afirmou nas redes sociais.