A prisão do ex-ministro Milton Ribeiro nesta quarta-feira (22) pela Polícia Federal é o mínimo que se pode esperar diante de um escândalo tão explícito quanto o esquema de cobrança de propina e favorecimento de "amigos do rei", no Ministério da Educação. No caso, pastores eram os "amigos do rei". Quem mandava atendê-los: o presidente. Foi o próprio Milton Ribeiro quem contou, em depoimento à PF, que apenas cumpria determinações do chefe.
Relembremos o caso: em março, reportagem do jornal Estado de S. Paulo revelou a existência de um gabinete paralelo no MEC, formado por pastores que ajudavam a decidir para onde o dinheiro da Educação brasileira deveria ir.
Depois, a Folha avançou e contou que um dos pastores havia cobrado "um quilo de ouro" em propina, durante encontro em um restaurante de Brasília. Houve também a informação, narrada por prefeitos a senadores, em abril, de que a liberação de recursos para uma escola profissionalizante foi condicionada ao adiantamento de R$ 40 mil "na conta da igreja evangélica".
Na reportagem do Estadão, assinada por Breno Pires, Julia Affonso e André Shalders, o escândalo foi descrito com detalhes. Conforme a apuração, os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura negociavam com prefeituras a liberação de recursos federais para obras de creches, escolas, quadras ou para compra de equipamentos de tecnologia.
Resta claro, aqui, que o grupo de pastores buscava extorquir os prefeitos, condicionando a liberação de recursos públicos ao pagamento de propina. A pergunta que não quer calar é: quem permitiu que esse grupo mandasse e desmandasse no dinheiro do contribuinte? Quem abriu a porta para que adentrassem no MEC sem pudor?
O pedido de propina em ouro não deixa dúvidas sobre o tom das conversas. E a operação da Polícia Federal confirma a gravidade do caso - o mandado de prisão de Milton Ribeira cita os possíveis crimes de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência, conforme o repórter Márcio Falcão, da TV Globo.
Mas é preciso que as investigações não cessem. Ainda há questões importantíssimas a serem respondidas: quem autorizou? Quem permitiu? Quem mais sabia? É fundamental esclarecer.