Prestes a fazer um comunicado nesta segunda-feira (28) sobre a decisão de renunciar ao governo do Estado e permanecer no PSDB, Eduardo Leite telefonou para Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD. A conversa tinha razão de ser: Leite e Kassab estreitaram laços desde que o ex-prefeito de São Paulo formalizou convite para que o gaúcho disputasse a Presidência da República pela legenda dele.
Leite estava disposto a fazê-lo e impulsionou a ida de aliados para o partido de Kassab (como a ex-senadora e amiga Ana Amélia Lemos), mas pesou a pressão de líderes tucanos que insistem que será possível construir um caminho que retire João Doria do caminho e permita que Leite seja o nome do PSDB na disputa ao Planalto.
Aliás, é esse o principal ponto da novela hoje: com Leite definindo a permanência no PSDB, como fará para ser candidato à Presidência? Doria, que venceu as prévias, será simplesmente alijado do processo?
Leite telefonou para Kassab no domingo (27) à noite, como revelou a jornalista Andreia Sadi, da TV Globo. Na conversa, em tom "muito educado", conforme apurou a coluna, Leite agradeceu ao convite feito pelo ex-prefeito de São Paulo e pelas conversas realizadas ao longo das últimas semanas.
O governador sinalizou que está confiante quanto à possibilidade de liderar um projeto da chamada "terceira via" rumo à Presidência.
Quem acompanha a história de perto percebe que há riscos nessa aposta. O governador de São Paulo, João Doria, está furioso com as articulações e disse que o movimento para tirá-lo da disputa eleitoral mesmo depois de ter vencido as prévias pode ser chamado de "golpe". Como se sabe, as prévias do PSDB definiram que o paulista será candidato, e não Leite.
É interessante lembrar que o movimento pró-Leite no PSDB tem digitais da ala de Aécio Neves, que tem Doria como desafeto. Além disso, líderes de partidos próximos, como o MDB, estão acompanhando a articulação.
"Doria não vai conseguir ser candidato dele mesmo", chegou a dizer um tucano reservadamente.
Nos bastidores, a versão que circula é de que aliados como o União Brasil e o próprio MDB estariam dispostos a fazer uma aliança nacional com o PSDB na eleição de outubro, porém o candidato teria que ser Eduardo Leite. Recentemente, em um jantar, a senadora Simone Tebet, pré-candidata pelo MDB, Baleia Rossi, presidente nacional do partido, e o presidente do PSDB, Bruno Araújo, conversaram sobre isso.
De concreto, Leite comunicará nesta segunda-feira sua permanência no PSDB e a renúncia ao cargo de governador, abrindo caminho para que possa disputar até mesmo uma vaga ao Senado, caso queira. A legislação eleitoral impõe essa saída como regra — ele só poderia permanecer no posto caso quisesse disputar a reeleição (ou, então, se não fosse candidato a nada).
Os próximos passos e a disputa interna no PSDB prometem dias e meses animados daqui para frente.