Alvo de comentários machistas e constrangedores ao ser eleita para ocupar um dos cargos de comando da Câmara de Vereadores de Canguçu, município localizado na Região Sul do Estado, a vereadora Iasmin Roloff Rutz (PT) conversou com a coluna sobre o episódio ocorrido na última quarta-feira (22). O tema foi relatado pela repórter Nathália Carapeços em GZH.
— Eu me senti desrespeitada. Era como se eu não fosse uma pessoa, uma vereadora eleita como os demais . Eles se referiram a mim como um vaso, um enfeite, um bibelô — desabafou.
O episódio aconteceu na última sessão ordinária da Câmara Municipal em 2021. A escolha da Mesa Diretora — grupo de vereadores que "comanda" o Legislativo — costuma ser algo protocolar, salvo exceções. No início dos votos, o vereador Francisco Romeu da Silva Vilela (PP) soltou o primeiro comentário: "nós votamos em dama, a vereadora Iasmim", anunciando a escolha feita pela bancada.
Na cena, é possível ouvir outro homem dizendo "vamos embelezar essa mesa". Depois, Arion Braga (PP) vota também na "vereadora Iasmim, para embelezar essa mesa aí e ter um 'tchan' feminino, tem todo o nosso apoio".
— Não se trata de um ataque, um ato desrespeitoso apenas contra mim. Mas é contra todas as mulheres. Se não houver mulheres nos espaços de poder, nossos temas continuarão sendo esquecidos, como a violência de gênero. É preciso que nós, mulheres, estejamos sim na política —reforçou.
Iasmin não chegou a ser eleita presidente da Casa. Ela perdeu para o Marcelo Maron (PTB).
Contudo, acabou sendo escolhida para outro cargo. A maioria da base governista decidiu votar na vereadora para ser a 2ª vice-presidente sob o pretexto de "ter mais mulheres" na mesa, segundo o atual presidente da Câmara, vereador Leandro Ehlert (MDB). Na sequência, Oraci Teixeira (PSB) reforçou seu voto para "embelezar a mesa", assim como Silvio Neutzling (MDB).
Iasmin chegou a demonstrar desconforto com a situação e pediu que os votos lhe fossem dados pela "capacidade intelectual e não pela beleza".
— É triste que tenha acontecido comigo, mas não chega a ser um fato isolado. Ainda temos muitos espaços de poder que são majoritariamente ocupados por homens e por isso vamos continuar nesta luta. Esse episódio, pra mim, servirá como combustível para continuar defendendo o direitos das mulheres — destacou.
À coluna, ela contou ser a única vereadora mulher do município na atual legislatura e citou que a questão de gênero tem sido um dos pilares de seu mandato. Entre os temas que destaca foi a luta para criação da "Sala das Margaridas", espaço de acolhimento em delegacia para atender mulheres vítimas de violência.
Iasmin disse ainda acreditar que os comentários dos colegas não tenham sido feitos com dolo, mas sim como parte de uma cultura que ainda enxerga as mulheres como não pertencentes a espaços de poder.
Vereadores homens e a "vitimização"
Procurado pela repórter Nathalia Carapeços de GZH , o vereador Arion Braga (PP), que foi o primeiro a usar o termo "embelezar a mesa" no plenário, explicou que tem o "maior respeito e admiração" por Iasmin, embora classifique a repercussão do ocorrido como "promoção pessoal" e "vitimização".
– Tenho o maior respeito, e qualquer palavra que possa ter usado ou por algum colega eu não vejo como desrespeito, elogio ou como "deslumbrar" ela pela beleza ou questão física. Todo mundo, desde que estou lá, trata com respeito, e é assim que tem que ser, essa é a minha posição. Acho que isso está se tornando muito mais uma questão pessoal, de promoção, tanto por parte da imprensa quanto por parte dela. Acho que temos coisas muito mais importantes para mostrar aqui no nosso município – defendeu Braga.
O vereador Oraci Teixeira entrou em contato com a reportagem para esclarecer a sua versão sobre o episódio. O parlamentar reiterou que votou em Iasmin por sua "capacidade e competência", embora acredite que a vereadora esteja "querendo se promover".
A coluna pergunta: até quando?