Não é preciso ter bola de cristal para ler que há um iminente vencedor no caótico (e inconcluso) processo de prévias para escolher o candidato do PSDB à Presidência. E não é João Doria, nem Eduardo Leite, tampouco o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio.
Até aqui, quem ganha com as fraturas expostas a partir da segregação tucana é o ex-juiz federal, ex-ministro de Bolsonaro e pré-candidato ao Palácio do Planalto em 2022 pelo Podemos, Sergio Moro.
Enquanto os tucanos trocam farpas públicas e sequer conseguem encontrar uma razão para o insucesso do processo de escolha interna, Moro se prepara para a corrida presidencial com sessões de fonoaudióloga e uma agenda intensa de compromissos que vão desde a participação em convenções do Podemos a entrevistas país afora. Em Porto Alegre, o ex-juiz estará presente na reunião do partido marcada para 4 de dezembro.
Agora escancarado na arena política, Moro vislumbra uma oportunidade à frente. Como postulante ao Executivo, sabe que há um espaço vago na direita liberal, no conservadorismo de costumes e no antipetismo, a partir de um abandono de parte dos eleitores que se demonstram decepcionados com Jair Bolsonaro. O PSDB poderia ocupar esse espaço? É uma pergunta a se fazer.
No caso dos bolsonaristas arrependidos, um dos elementos mais recentes para a decepção é a filiação de Bolsonaro ao PL, partido comandado pelo "ex-mensaleiro" Valdemar Costa Neto. Não à toa, Moro quer surfar no episódio demonstrando que #elesim tem compromisso com o combate à corrupção. Aliados do ex-juiz dizem que ele viu com "satisfação" a associação do ex-chefe com o comandante do PL, o que denotaria rasgar de vez o discurso contra os corruptos.
Significa dizer que Moro é favorito na corrida? Por óbvio que não. Mas convém observar quem está conseguindo aproveitar as lacunas deixadas pelos demais no trajeto. Se os tucanos sequer conseguem se entender entre si, o ex-juiz apresenta-se como candidato preocupado com um Brasil livre de corrupção, antipetista e pró-mercado. Tal como um certo Jair Bolsonaro em 2018.
Vai funcionar? É cedo para dizer. Agora assíduo no ambiente digital, o ex-chefe da Lava Jato aproveita para surfar nas redes (com direito a vídeos no Reels) e posou sorridente no Congresso do MBL, ao lado de Danilo Gentili. Para Moro, 2022 tá ON.