Entre tantos horrores a serem explicados no triste quadro de quase 500 mil mortes por covid-19 no Brasil, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello precisa responder ao menos três questionamentos. Protegido por um habeas corpus que permite que ele fique calado, o general estará hoje frente a frente com a CPI no Senado, em um dos depoimentos mais aguardados da comissão que busca apurar a existência de falhas ou omissões do governo federal no combate à pandemia.
A primeira pergunta a ser respondida é por que o governo federal demorou tanto para realizar a compra de vacinas contra a covid-19. É fato que não é exclusividade do Brasil a dificuldade para adquirir imunizantes, visto que a demanda é global. Mas não foram poucas as vezes em que o governo ignorou ou mesmo recusou a oferta de vacinas que poderiam salvar a vida de milhões de brasileiros.
Na gestão de Pazuello, a Pfizer tentou fechar acordo com o Brasil e não conseguiu. Isso sem contar o fatídico episódio em que Pazuello foi obrigado a voltar atrás sobre a aquisição de vacinas do Butantan — quando posou ao lado do presidente Jair Bolsonaro para dizer que "um manda e o outro obedece". Francamente.
Outro questionamento se mostra imprescindível na audiência da CPI de hoje. Afinal, por que o governo brasileiro insistiu (e persistiu) na compra de um medicamento sem eficácia comprovada para tratar pessoas contaminadas com o coronavírus?
A cloroquina chegou a ser erguida pelo presidente Jair Bolsonaro, em visita ao Rio Grande do Sul, como uma espécie de pílula milagrosa contra a doença. Mostrou a Folha de São Paulo, inclusive, os esforços do Ministério das Relações Exteriores para importar a substância da Índia — muito mais empenho do que para compra de vacinas. Assustador.
E, por fim, Pazuello precisará explicar a desastrosa ação (ou falta de) do governo diante da crise de oxigênio em Manaus. Não podem passar em branco as cenas aterrorizantes de familiares correndo com cilindros na tentativa de salvar entes queridos, por absoluta incompetência e inação de gestores que ignoraram avisos de que haveria um colapso na estrutura hospitalar.
Tudo isto precisa urgentemente ser explicado. Mas protegido por um habeas corpus, Pazuello poderá se negar a responder.