Enquanto Fábio Wajngarten suava para responder os questionamentos formulados por senadores na CPI da Covid, um velho conhecido dos brasileiros decidiu dar as caras no Senado nesta quinta-feira. O machismo se sentou e interrompeu a fala da senadora Leila Barros, conhecida como Leila do Vôlei, que se preparava para apresentar o áudio divulgado pela Revista Veja, em que Wajngarten apontava "incompetência" do Ministério da Saúde na aquisição de vacinas ofertadas pela Pfizer.
O autor da interrupção foi o senador Marcos Rogério, do DEM. Aliado ao governo, ele pretendia blindar Wajngarten quanto às acusações que lhe eram feitas — até aí nada de novo porque partidos de oposição já fizeram o mesmo para defender os seus.
Ocorre que, além de interromper a colega senadora, Marcos Rogério fez algo típico do comportamento que denota preconceito de gênero: "Calma, não precisa ficar nervosa", associando à colega a ideia de "descontrole". Curioso é que na mesma sessão dois senadores se chamaram de "vagabundo" e ninguém achou que eles estavam "nervosos" ou dando "chilique".
Leila e outras senadoras não integram a comissão da pandemia, mas por acordo no Senado conseguiram direito de fala à bancada feminina, a fim de que mulheres possam participar das discussões. No episódio de quarta-feira, o presidente da CPI, Omar Aziz, garantiu a palavra a ela.
"Antes de eu poder mostrar a gravação, lamentavelmente, mais uma vez houve uma tentativa de silenciar a voz de uma mulher na CPI. Porém, os que tentam nos calar, não perceberam ainda que não conseguirão. A minha voz e a das demais mulheres jamais será silenciada", escreveu a senadora sobre o episódio em seu perfil nas redes sociais.
Mencionei a palavra chilique porque foi a expressão utilizada por outro parlamentar para se referir à deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL). Neste episódio, o autor foi Éder Mauro (PSD), que na mesma sessão havia ofendido a deputada Maria do Rosário (PT), quando ela estava com a palavra.
— Podem chorar e se fazer de vítima, nessa p*** dessa comissão. Eu queria que vocês estivessem aqui fisicamente. Vão dormir e esqueçam de acordar — gritou ele.
Éder se referiu a Rosário como "Maria do Barraco" e a Fernanda como "Maria do Chilique". O PSOL decidiu ingressar com uma representação contra ele no Conselho de Ética da Câmara.