A movimentação de empresas privadas que buscam vacinas contra o coronavírus para imunizar seus funcionários no Brasil segue sendo feita junto a autoridades brasileiras. Conforma a coluna apurou, pelo menos duas reuniões já foram realizadas entre representantes das empresas e o Ministério da Saúde, que segue reticente sobre a iniciativa. Entre as organizações que lideram o movimento está a Gerdau, que tem raízes no Rio Grande do Sul.
A coluna Painel, da Folha de São Paulo, informou que há interesse também por parte de líderes da Vale, JBS, Ambev, Santander, entre outras. Seriam 33 milhões de doses da vacina de Oxford/Aztrazeneca.
De acordo com um dos empresários que acompanha as negociações, cada empresa já vem fazendo contatos individuais com indústrias e/ou laboratórios internacionais que trabalham na produção de vacinas. Entretanto, a compra só pode ser feita se houver autorização por parte do Ministério da Saúde. Daí a articulação do grupo para pressionar as autoridades federais.
Na primeira proposta, o grupo apresentou ao Executivo a intenção de adquirir um lote de vacinas para imunizar seus funcionários e familiares, com a condição de doação de uma parte equivalente de doses para o SUS. O governo, porém, não aceitou a ideia na primeira reunião, sob o argumento de que está "tudo sob controle".
De fato, as autoridades federais insistem na visão de que o governo segue atuando de forma segura para importação de insumos e das vacinas. À Rádio Gaúcha, o ministro da Secretaria-Geral de Governo, Luiz Eduardo Ramos, chegou a pedir um voto de confiança à população.
À coluna, um ponto interessante foi levantado por um interlocutor que acompanha tais conversas: quase tudo — vacinas, insumos — vem da China e da Índia. E, como se sabe, o governo federal enfrenta dificuldades em seu relacionamento com essas nações. A ponto de, nos últimos dias, ter sido cobrada nos bastidores uma postura mais efetiva por parte do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
— O fato é que essas empresas hoje têm relacionamentos com os governos locais muito melhores do que o governo Bolsonaro — avaliou.
De fato, conforme a coluna apurou, uma das empresas citadas acima já teria sondagens avançadas, feitas junto a um laboratório da Índia. Os lotes seriam adquiridos assim que houvesse aval do governo. O Ministério da Saúde, porém, não autorizou que a intenção fosse adiante.
Reservadamente, alguns empresários admitem que melhor seria se houvesse a compra e distribuição de vacina para todos, mas destacam que a desorganização do governo em relação à importação de insumos e vacinas preocupa. Daí, ressaltam, a necessidade de uma articulação por parte do setor privado.
— O problema é que o governo não tem se movimentado direto, não sabe negociar, não sabe onde comprar e é péssimo de logística também. Certamente as empresas fariam isso melhor — observou.
Conforme a Folha destacou, a vontade dos empresários aumentou justamente depois de o governo ter enfrentado entraves para conseguir importar vacinas e insumos.