Eu tenho carinho especial pelo Sul de Santa Catarina. Minha família toda veio de lá. Meu avô materno, seu Vitorino, conheceu minha avó Eva nos salões de baile de uma cidadezinha cujo nome em nada lembra a hospitalidade com a qual estamos acostumados: Sombrio. Com o tempo, parte da família se espalhou pela região — Criciúma, Araranguá — e parte veio parar em Porto Alegre, em busca de novos sonhos.
Ainda mantemos nossas raízes e quase todos os meses, voltamos para lá, onde a gente se reúne em longos cafés da manhã, com rosca de polvilho e, se depender do meu pai, feijão mexido com farinha catarina. É sempre uma festa chegar pela BR-101.
Pois na madrugada desta terça-feira (1º), um dos primos relatou o horror que havia tomado conta de Criciúma, onde mora, durante a madrugada. Foram tiros e mais tiros, num cenário de faroeste, ou como se convencionou chamar "o novo cangaço" patrocinado por quadrilhas de assalto a banco.
Contou à Rádio Gaúcha o prefeito Clésio Salvaro que os bandidos estavam posicionados em diversos pontos da cidade. Seriam cerca de 30 homens, divididos em 10 carros. Um amigo me disse que o pavor tomava conta a cada som de tiro disparado. Mas confessou ser ainda mais aterrorizante o som do silêncio, quando não se sabia se os criminosos haviam fugido ou se permaneciam à espreita para novos ataques. Ninguém conseguiu dormir.
Narraram repórteres e moradores que o centro da cidade foi sitiado por assaltantes de bancos que explodiram agências e caixas eletrônicos. Eles usaram reféns como escudo, provocaram incêndios e atiraram várias vezes. Elites das polícias Civil e Militar atuam na investigação e busca a assaltantes.
Criciúma é terra de gente trabalhadora, talentosa, do primeiro time que deu um título nacional a Felipão. Acordar com uma notícia dessas nesta terça foi um soco no estômago, mais um elemento que corrói nossa esperança de que as coisas podem dar certo neste país. Não bastasse o crime organizado, houve quem buscasse recolher do chão as notas de dinheiro que resultaram da explosão dos cofres das agência. Quatro foram presos, com uma quantia que se aproximada de R$ 810 mil.
A Polícia Militar informou que suas equipes estão todas dedicas a localizar os criminosos ao longo das próximas horas. As últimas imagens mostram que eles fugiram para um município chamado Nova Veneza, que fica a mais ou menos 25 quilômetros de Criciúma. Considerada a organização e o armamento utilizados, não se descarta que o ataque possa ter relação com o grupo criminoso PCC — em casos como esse, a polícia já identificou que a rede criminosa ajuda a planejar as ações e fornece armamentos. Não foram poucos os municípios gaúchos que também assim sofreram.
A brutalidade do ataque e o horror ao qual a população de Criciúma foi submetida exigem resposta séria e urgente das autoridades. Saber que o crime nos tira o sossego de poder circular com tranquilidade pelas ruas, mesmo nos redutos mais afastados, é mais uma derrota, em meio a tantas que o ano de 2020 nos impõe. É preciso reagir com inteligência policial, desidratação financeira das facções e penas severas aos criminosos.