Primeiro ministro indicado por Bolsonaro ao STF, Kassio Nunes já deu sinais sobre qual será sua linha de atuação, em seu primeiro voto durante julgamento envolvendo a Lava-Jato na Segunda Turma da suprema corte. Nome festejado pelo centrão e por políticos como Renan Calheiros, ele não decepcionou e se alinhou aos votos dos colegas Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, impondo uma derrota à operação.
A posição de Kássio, somada a dos colegas, resultou na retirada da investigação contra o promotor Flávio Bonazza das mãos do juiz Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio de Janeiro — e, aliás, apoiador de Bolsonaro.
Para refrescar a memória (são tantos os escândalos que a gente se perde), o promotor havia sido preso em fevereiro, depois de ser acusado pelo Ministério Público de receber uma mesada de R$ 60 mil por parte de empresários de ônibus. Em troca, agiria em benefício de empresas investigadas. Em março, Gilmar Mendes mandou soltar o acusado.
A votação que a coluna se refere repetiu um cenário antes visto na turma. De um lado, ficaram os ministros Gilmar e Lewandowski — que usualmente votam contra a operação. De outro, Carmen Lúcia e Edson Fachin, que costumam se posicionar a favor das investigações. Até sua aposentadoria, o decano Celso de Mello completava o time dos "lavajatistas". Contudo, a partir de sua saída, os empates estavam beneficiando os réus, o que provocou debate e preocupação dos investigadores.
Com a nomeação de Kássio Nunes, Bolsonaro reforçou o time contra a operação. Novidade? Nem de longe. Bastaria ter prestado atenção às reações de políticos encalacrados quando do anúncio do nome do escolhido pelo presidente. Até movimentos favoráveis a Jair Bolsonaro perceberam que ali o capitão dava as mãos e os braços ao establishment.
Isso sem falar na troca, meses antes, do comando da Polícia Federal (episódio que forçou a demissão de Sergio Moro do governo).
Daí a percepção de que o voto de Kássio Nunes apenas confirma a tese de que o compromisso de Bolsonaro com ideias de comabte à corrupção não passou de promessa falsa e ilusória em busca de apoio popular. E não foram poucos os que acreditaram.