Que Bolsonaro é admirador - imitador, dizem alguns - do presidente norte-americano Donald Trump não há dúvidas. Às vésperas da definição sobre quem chefiará os Estados Unidos pelos próximos quatro anos e com projeções indicando a vitória de Joe Biden, o chefe do Executivo no Brasil suspirou: "a esperança é a última que morre".
Mas como se comportará o governo brasileiro em eventual derrota de Trump nas urnas?
O caminho é incerto, mas há quem aposte que a narrativa de "fraude" e "judicialização" do processo será encampada pelo governo bolsonarista, ao maior estilo "ninguém solta a mão de ninguém".
Como se sabe, Trump afirmou que, por direito, "ganhou a eleição" e irá recorrer à Suprema Corte para impedir uma "fraude". No Brasil, com a apuração se aproximando do resultado final, a torcida no Palácio do Planalto passou a ser para que Trump reverta a derrota com a recontagem na Suprema Corte.
O jornalista Jamil Chade, colunista do portal UOL, aposta nessa perspectiva. Em caso de Trump acionar a Justiça oficialmente, o governo brasileiro não reconhecerá imediatamente uma eventual vitória de Biden e irá aguardar o resultado dos tribunais americanos.
"O governo brasileiro vai se mostrar leal ao presidente Donald Trump até o final do processo, inclusive se a definição do resultado eleitoral se arrastar nos tribunais dos EUA. No Itamaraty, a orientação é de que não haverá qualquer manifestação caso Joe Biden atinja os 270 votos do colégio eleitoral, número "mágico" que o garantiria a vitória", avaliou.
Vale lembrar que a narrativa de não aceitar o resultado da eleição, em caso de derrota, já fora usada por Bolsonaro em 2018. À época, o então deputado federal e candidato à presidência da República ameaçou recorrer ao "tapetão":
- Não aceito resultado das eleições diferente da minha eleição - disse, ao jornalista José Luiz Datena.
Sendo assim, aderir à tese de Trump não causaria qualquer desconforto ao mandatário brasileiro.
Há outro aspecto interessante a ser observado. Uma eventual derrota de Donald Trump representará um "golpe mortal na onda populista de direita que ameaçou o mundo nos últimos anos", como sinalizou o embaixador Rubens Ricúpero ao Estadão. Daí a estratégia de Bolsonaro de se manter fiel à narrativa construída pelo presidente americano.
Ainda que delirante, ambos encontram eco em fiéis seguidores que desconfiam até mesmo do formato redondo do planeta Terra.
Ao verbalizar seu discurso de vítima nos Estados Unidos, Trump não somente inspira Bolsonaro, como o legitima a continuar fazendo o mesmo no Brasil.