O presidente dos Estados Unidos Donald Trump voltou a fazer acusações de fraude nas eleições americanas nesta quarta-feira (4) pelas redes sociais, levando a sua campanha a contestar os resultados em pelo menos três Estados decisivos para o resultado do pleito presidencial. Por volta das 23h GMT (19h de Brasília), Biden somava 264 votos eleitorais, a seis dos 270 necessários para ser eleito presidente, contra 214 para Trump.
No dia seguinte às eleições, a campanha pela reeleição do atual ocupante da Casa Branca contestou a apuração de votos em três estados: Wisconsin e Michigan, onde a imprensa americana projetou a vitória do candidato democrata, e na Pensilvânia, onde Trump tem uma pequena vantagem.
A equipe de Trump denunciou, sem apresentar evidências, que houve irregularidades em vários condados no Wisconsin e que em Michigan seus delegados não tiveram acesso à contagem em muitos locais. Na Pensilvânia, disse que pediria à justiça a suspensão da contagem "à espera de maior transparência".
São sete os Estados ainda não foi declarado um vencedor: Alaska (3 votos no Colégio Eleitoral), Geórgia (16), Carolina do Norte (15), Nevada (6) e Pensilvânia (20). No Arizona (11 votos), Biden mantém uma vantagem segura, mas projeções mais conservadoras, como as do canal de notícias CNN, colocam a disputa em aberto.
Como aconteceu em 2016 com Hillary Clinton, Biden pode vencer no voto popular e perder a eleição, se não conseguir os votos de delegados necessários para chegar à Casa Branca. O número mágico é 270, de um total de 538 que formam o Colégio Eleitoral no sistema americano de sufrágio universal indireto. Até agora, Biden já somou mais de 71 milhões de votos, um recorde no pleito.
"Não seremos silenciados", diz Biden, pedindo contagem de todos os votos
Sem se declarar vencedor, Biden disse na tarde desta quarta-feira que confia em que será vencedor da disputa quando terminar a apuração, assegurando que vence Trump nos estados-pêndulo restantes.
— Nós, o povo, não seremos silenciados — prometeu Biden, destacando que "cada voto deve ser contado", em um curto discurso em seu reduto eleitoral em Wilmington, Delaware, ao lado da colega de chapa, Kamala Harris.
Trump deixou claro que não vai aceitar a derrota sem questioná-la.
— Ganhamos esta eleição — disse em um discurso transmitido ao vivo pela televisão da Casa Branca na madrugada desta quarta-feira, quando alegou que houve uma "fraude" contra o povo americano.
Na manhã desta quarta, ele repetiu as acusações de manipulação de votos, apesar da falta de provas.
"Ontem à noite estava liderando, com frequência solidamente, em muitos estados-chave, em quase todas as instâncias governadas e controladas pelos democratas. Em seguida, uma a uma, começaram a desaparecer magicamente", escreveu em uma postagem, marcada como "enganosa" pelo Twitter.
Observadores internacionais criticam Trump
O chefe de uma missão internacional de observadores nas eleições americanas criticou as "acusações infundadas" de Trump e disse que "abalam a confiança" nas instituições democratas.
Michael Georg Link, coordenador dos observadores da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), advertiu, ainda, que nenhum político ou funcionário eleito deveria limitar o direito ao voto.
— Assegurar que cada voto seja contabilizado é uma obrigação fundamental de todos os ramos do governo — afirmou.
Lembrança do impasse de 2000
Após eleições com participação recorde e uma maciça votação antecipada, tanto pelo correio quanto presencial, os Estados Unidos ainda não sabem que assumirá a Presidência em 20 de janeiro de 2021.
Isto não acontece desde o ano 2000, quando a disputa entre o republicano George W. Bush e o democrata Al Gore acabou sendo decidida na Suprema Corte.
Após uma corrida marcada pela virulência e pela polarização, e perturbada pela pandemia de covid-19, pela crise econômica e os protestos sociais, o fim poderia começar a ser vislumbrado nesta quarta, se a Geórgia concluir sua apuração. No entanto, em Estados como Nevada e Pensilvânia, pode ser preciso esperar até a quinta ou a sexta-feira, devido ao volume de cédulas que resta apurar.
E se for parar na justiça, como no ano 2000, o desenlace "pode durar semanas", disse à AFP Ed Foley, especialista em direito eleitoral da Universidade Estadual de Ohio.
Segundo o US Elections Project, da Universidade da Flórida, nestas eleições americanas votaram 160 milhões de pessoas, incluindo os mais de 101,1 milhões que o fizeram antecipadamente (65,2 milhões pelos correios). Isto representa uma participação de 66,8% contra 59,2% em 2016.
No Legislativo
Os democratas conseguiram manter a maioria na Câmara de Representantes, o que posiciona Nancy Pelosi para manter a presidência da casa por mais dois anos. Porém, viram diminuir cada vez mais as expectativas de conseguir arrebatar dos republicanos a maioria no Senado.
Na Câmara Alta, os democratas conseguiram por enquanto dois assentos (Colorado e Arizona). Os republicanos conseguiram arrebatar um assento no Alabama, desafiando as pesquisas. O partido de Trump detém a maioria dos senadores — 53 contra 47 democratas.
Pelo menos três protestos "contra o fascismo" e "para impedir que Trump roube esta eleição" estão previstas para esta quarta em Nova York, reduto democrata, embora seja o estado natal do presidente.
— Infelizmente, acho que Biden vencerá, porque os democratas fizeram trapaça, disse à AFP Orit Shalom, 40 anos, que caminhava sem máscara em frente à Trump Tower, em Manhattan, entre dezenas de policiais e grandes lojas protegidas com tapumes preventivamente para atos de violência e saques.
— E agora com Biden, teremos caos, não teremos lei e ordem. Nosso país vai ladeira abaixo. Não queremos o socialismo — acrescentou
Cristy Fraser, agente imobiliária de 58 anos que votou em Biden, admitiu estar "preocupada".
— É muito terrível que Trump desafie nosso processo democrático — disse na Times Square.
Em Portland, um dos epicentros da onda de manifestações antirracistas e contra a violência policial este ano, manifestantes queimaram bandeiras americanas e marcharam pela cidade, armados com fuzis de assalto e entoando canções de protesto, mas sem provocar violência.